O MARCO DO MEIO-DIA
Antonio Nóbrega (2001)
Crítica
Cotação:
Originário do Quinteto Armorial, o multiartista pernambucano Antonio Nóbrega, 48, edifica uma obra musical imersa nas profundezas da cultura nordestina numa trajetória à parte da indústria, reforçada pelo desempenho cênico. Mas não se pode aplicar o redutor "trilha sonora" a seus discos. Eles tem componentes autorais bem nítidos e total independencia da ribalta onde pontificam o ator/cantor/músico/dançarino e sua trupe. O novo CD/peça refere-se ao marco, "uma fortaleza imaginária, construção poética dos cantadores nordestinos, onde é colocado tudo de melhor que existe como num desafio aos cantadores rivais", explicou ele ao Jornal do Brasil. Em parcerias com os poetas Wilson Freire (iniciada no projeto Na Pancada do Ganzá) e Braulio Tavares, Nóbrega conta com arranjos de Zezinho Pitoco (que co-assina com ele Estrela d’Alva) e Edmilson Capelupi, e investe nos mais diversos formatos da música de sua região. Ele parte algumas vezes da criação popular pura como na "versalhada" do Coco da Bicharada onde, com entonação rítmica de Jackson do Pandeiro, fala num "siri jogando bola", como na composição homônima de Luiz Gonzaga com Zé Dantas, de 1956. Em Dança do Mergulhão, ele recria a atmosfera das bandas de pífanos que povoam o interior nordestino. E, com sua voz às vezes excessivamente impostada de menestrel, traça a epifania de heróis nacionais em Zumbi, Romance do Aleijadinho, Galope Beira-Mar para Bispo do Rosário e no frevo aliciante Flecha Fulniô, que celebra o mito Garrincha referindo-se à ascendência (da tribo) indígena do megacraque do futebol.
O patrono dessa estética que transfigura a criação popular sem adulterá-la, o teatrólogo Ariano Suassuna, comparece no texto do Martelo d’O marco do Meio-Dia com uma incitação ao combate: "nossa sorte de povo injustiçado/ é vencida por nós ao som da luta". Com rigor e fé em seus princípios estéticos e políticos, seu discípulo Nóbrega conseguiu abrir uma brecha pop para a cultura popular tratada como assunto empoeirado pelo mercadão.(Tárik de Souza)
O patrono dessa estética que transfigura a criação popular sem adulterá-la, o teatrólogo Ariano Suassuna, comparece no texto do Martelo d’O marco do Meio-Dia com uma incitação ao combate: "nossa sorte de povo injustiçado/ é vencida por nós ao som da luta". Com rigor e fé em seus princípios estéticos e políticos, seu discípulo Nóbrega conseguiu abrir uma brecha pop para a cultura popular tratada como assunto empoeirado pelo mercadão.(Tárik de Souza)
Faixas