TANTO TEMPO

Construindo uma carreira muito bem-sucedida nos Estados Unidos e na Europa, finalmente chega ao Brasil o álbum de estréia de Bebel Gilberto. Tanto Tempo tem encantado a crítica e o público lá fora, e não é à toa. Mesmo o time de primeira que a cantora e compositora conseguiu reunir em torno de si (Mario Caldato Jr, Suba, Amon Tobin, Béco Dranoff) não ofusca o talento inegável de Bebel, que assina sete das onze faixas, sempre em parcerias diferentes. Além de boa compositora, ela é uma cantora que sabe o que faz, explorando muito bem o timbre suave e baixinho, quase sussurrado que provavelmente aprendeu em casa, ainda cedo, com papai João. A faixa de abertura é uma versão cool de Samba da Bênção de uma felicidade incrível em sua base eletrônica soft de Amon Tobin recheada pelo violão de Luís do Monte e pela percussão de João Parahyba. Aliás, soft, light, cool, suave são adjetivos inevitáveis para caracterizar Tanto Tempo, álbum que passa muito longe da mesmice e do tédio freqüentes no easy-listening. Ouça-se por exemplo o primoroso e dançante arranjo de Bananeira, feito pelo próprio João Donato, que ainda participa tocando um teclado Fender Rhodes! No extremo oposto, uma versão voz-e-violão de Samba e Amor, do tio Chico Buarque, em que ouve-se nitidamente a filha de Miúcha cantando acompanhada por Celso Fonseca. Encerrando as releituras de clássicos, Samba de Verão, de Marcos e Paulo Sérgio Valle, em sua versão Summer Samba (que ganhou o nome So Nice), se destaca pelo clima carioca que evoca, mesmo cantada em inglês. August Day Song, em que Bebel divide os vocais com a brasileira Nina Miranda, do conjunto Smoke City, está mais para um dia de agosto no hemisfério sul, com seu jeito de trilha perfeita para se ouvir em casa em dia de chuva de inverno. Bebel sabe tudo de bossa, como se pode comprovar na faixa-título (de Bebel e Suba) e sabe tudo da eletrônica de ponta, como se vê na "etérea" Alguém (Bebel/ Béco/ Suba) e em Lonely (Bebel/ Roberto Garza). Tudo feito com a maior qualidade e bom gosto, e mostrando que Bebel, tendo nascido numa das famílias mais tradicionalmente musicais do Brasil, sabe como poucos renovar e reinventar as tradições.(Nana Vaz de Castro)