BEBETO AO VIVO

Não há como dissociar o paulistano Bebeto da sua matriz, Jorge Ben, o rei do balanço. Mas quem há de negar que os bailes dos subúrbios cariocas e da Baixada Fluminense dos anos 70 teriam sido muito menos divertidos sem ele? Ninguém que o conheça um pouco. Depois de um bom tempo restrito a esse circuito praticamente underground, com discos que passaram em branco, Bebeto está de volta num CD ao vivo, formato inevitável nesses nossos tempos, mas que dá conta perfeitamente de mostrar do que ele é capaz. Gravado no Olimpo, casa no subúrbio carioca da Vila da Penha, o cantor está em casa. Numa boa média com seu público, ele manda de cara quatro de seus grandes sucessos, músicas que estão talhadas no inconsciente coletivo do além túnel do Rio: Menina Carolina, Salve Ela (a mais Jorge Ben de todas), A Beleza É Você Menina e Minha Preta, com sua impagável letra ("Minha preta, eu ando calado/ Sofrido tal qual um samba-canção/ E as dores que trago no peito/ Se perde em acordes no meu violão"). O suingue honesto de Bebeto é amplificado por uma inflamada metaleira, uma boa cozinha e os bons arranjos do tecladista Ricardo Leão - o cantor se encarrega de reforçar o balanço com seu violão de cordas de nylon, que o mestre Ben Jor abandonou ainda lá nos 70, em prol de uma guitarra cantante. Saindo dos seus clássicos, Bebeto irradia simpatia e suingue em músicas como a ode ao Rio Praia e Sol, Lua Nova (Pra Balançar) e a deliciosa Neguinho Poeta. Ao mesmo tempo, mostra que pode se sair bem nas ralentadas Monalisa (outra que lembra demais a matriz) e Esperanças Mil. No entanto, ele escorrega no gosto duvidoso em Nega Olívia ("E nas profundezas dessa sua carne negra/ Eu me joguei de corpo e alma inteiro/ E hoje a minha vida é um cativeiro") e Jéssica ("o nome dela é Jéssica/ Eu já falei pra você/ É a coisa mais linda/ Que Deus pode trazer"). As inéditas do disco também não animam muito. Amiga é um misto de pagode mauriçola (que Bebeto, indiretamente, ajudou a criar com seu samba-rock) e sertanejo. Já a balada Reflexão caminha sem medo no campo do brega. Mas elas se diluem na grande festa que é este disco, bem mais legítimo que muitos dos Ao Vivo que saíram este ano.(Silvio Essinger)