BRASILIDADE
Bossacucanova / Roberto Menescal (2001)
2001
Ziriguiboom
ZIR 06
Crítica
Cotação:
Até hoje, a chamada música eletrônica vinha incorporando elementos de brasilidade de forma artificial e/ou meramente decorativa, por mais bem intencionadas que pudessem ser as iniciativas, lá fora e aqui. Essa, pelo menos, é a impressão que fica após se ouvir Brasilidade, o segundo disco do trio Bossacucanova, agora em parceria com o compositor, violonista e guitarrista Roberto Menescal. Ouvi-lo em seguida a Bossacucanova Vol.1 é passar do lo-fi ao hi-fi, da completa despretensão a um alto nível de ambição. Não se trata mais aqui de dar beats e grooves novos a bem-comportadas gravações de bossa nova, como foi no primeiro disco. O quarteto partiu para um radical projeto de reinvenção, ao mesmo tempo, da bossa e da música eletrônica - e o resultado realmente conseguiu unir o melhor dos dois mundos. Uma boa é começar sua audição pela terceira faixa, Rio (clássico de Menescal e Ronaldo Bôscoli, como muitas das faixas do disco). Os vocais de Cris Delanno e um sample do público ruidoso de um festival trazem o frescor dos anos 60 para o seio drum'n'bass da gravação sem choque ou estranhamento algum - é uma daquelas faixas que o DJ Marky poderia tocar com grandes chances de sucesso numa festa em São Paulo ou em Londres. Um balanço novo, frenético, sem prejuízo para a beleza harmônica e timbrística (aliás, foi excelente a sacada de samplear a seção de cordas de uma antiga gravação da música), que é justamente o que falta a 99,9% das faixas que têm sido tocadas na pistas, por mais groove e explosão que possam ter.
Além de sua grande experiência como arranjador, Menescal entra em Brasilidade com uma guitarra que há de surpreender muitos dos que julgam conhecê-lo. Jazzística, meio na linha Wes Montgomery, ela mostra uma surpreendente adequação à construção de batidas do Bossacucanova. Principalmente em Garota de Ipanema, onde é a estrela ao lado da voz de Ed Motta - eis um caso, por sinal, em que a qualidade da recriação, com arranjo de gente adulta, compensa a extrema obviedade da canção. A guitarra volta a brilhar nas menos conhecidas A Morte de um Deus de Sal (a única faixa que tem um baterista de verdade, Ali-Z) e Surfboard (com um profundíssimo baixo acústico de Adriano Giffoni) - é o tipo de coisa que as pessoas deveriam estar ouvindo no Leblon de 2001. Em Água de Beber, Menescal só fica em segundo plano em relação às peripécias de pandeiro (de Reginaldo Vargas) e scratch (Marcelinho Da Lua), numa faixa que faria produtores como o francês Dimitri From Paris (um dos eletrônicos que mais bebem na bossa) pendurarem as chuteiras imediatamente.
Em termos de chances no exterior, a que parece ser a melhor faixa de Brasilidade é Guanabara, uma das composições inéditas do disco. Perto dela, tudo o que foi feito em termos de house music com sabor brasileiro passa a ser precário. Nunca a house foi tão brasileira (com percussões e harmonias de fazer cair o queixo) e nunca o samba foi tão inglês (com todos aqueles jogos de filtros de freqüências e outros procedimentos da música para clubs). Outra inédita, Brasilidade faz bonito juntando o que há de mais saudoso da música dos 60 (coros meio ufanistas porém doces, levadas nordestinas) com a batucada eletrofunk mais moderna e contagiante. Casa perfeitamente com a terceira inédita, Mais Perto do Mar, a continuação da versão de Nós e o Mar, um lindo e psicodélico drum'n'bass, mais um daqueles para Marky estourar na Inglaterra. Max de Castro que nos perdoe, mas Bossacucanova & Menescal estão agora com a melhor munição brasileira para as pistas européias, num disco que começa um novo capítulo para a música for export do país.
(Silvio Essinger)
Além de sua grande experiência como arranjador, Menescal entra em Brasilidade com uma guitarra que há de surpreender muitos dos que julgam conhecê-lo. Jazzística, meio na linha Wes Montgomery, ela mostra uma surpreendente adequação à construção de batidas do Bossacucanova. Principalmente em Garota de Ipanema, onde é a estrela ao lado da voz de Ed Motta - eis um caso, por sinal, em que a qualidade da recriação, com arranjo de gente adulta, compensa a extrema obviedade da canção. A guitarra volta a brilhar nas menos conhecidas A Morte de um Deus de Sal (a única faixa que tem um baterista de verdade, Ali-Z) e Surfboard (com um profundíssimo baixo acústico de Adriano Giffoni) - é o tipo de coisa que as pessoas deveriam estar ouvindo no Leblon de 2001. Em Água de Beber, Menescal só fica em segundo plano em relação às peripécias de pandeiro (de Reginaldo Vargas) e scratch (Marcelinho Da Lua), numa faixa que faria produtores como o francês Dimitri From Paris (um dos eletrônicos que mais bebem na bossa) pendurarem as chuteiras imediatamente.
Em termos de chances no exterior, a que parece ser a melhor faixa de Brasilidade é Guanabara, uma das composições inéditas do disco. Perto dela, tudo o que foi feito em termos de house music com sabor brasileiro passa a ser precário. Nunca a house foi tão brasileira (com percussões e harmonias de fazer cair o queixo) e nunca o samba foi tão inglês (com todos aqueles jogos de filtros de freqüências e outros procedimentos da música para clubs). Outra inédita, Brasilidade faz bonito juntando o que há de mais saudoso da música dos 60 (coros meio ufanistas porém doces, levadas nordestinas) com a batucada eletrofunk mais moderna e contagiante. Casa perfeitamente com a terceira inédita, Mais Perto do Mar, a continuação da versão de Nós e o Mar, um lindo e psicodélico drum'n'bass, mais um daqueles para Marky estourar na Inglaterra. Max de Castro que nos perdoe, mas Bossacucanova & Menescal estão agora com a melhor munição brasileira para as pistas européias, num disco que começa um novo capítulo para a música for export do país.
(Silvio Essinger)
Faixas