EMBAIXATRIZ DO SAMBA

Carmen Costa começou sua carreira como corista de gravações no final dos anos 30, incentivada por Carmen Miranda e pelo patrão Francisco Alves (ela era sua empregada). Depois, colecionou sucessos ao lado do parceiro Henricão (como Só Vendo que Beleza, regravada por Moreno Veloso). Mais tarde, baixou os tons - consagrou seu estilo diseuse característico, rivalizando com Nora Ney - e fez enorme sucesso ora com sambas-canções (como Quase e Eu Sou a Outra...), ora com sambas gingados (como Jarro da Saudade), especialmente na década de 50. Por ter-se casado com um americano nos anos 40, vez por outra fazia temporadas fora do país, mesmo após ter-se separado. Numa dessas, em 1962, caiu de pára-quedas no célebre concerto de bossa nova do Carnegie Hall, de Nova York, mesmo sem fazer parte do movimento ou ter qualquer intimidade com aquela nova geração da MPB. Foi exatamente na volta dessa temporada que a Copacabana lançou o LP Embaixatriz do Samba, que a EMI Music acaba de reeditar em CD. Suas canções são uma tentativa de levar Carmen para o terreno da bossa. Acontece que o disco está mais para sambalanço que para outra coisa. O repertório não é grande coisa. Vale mais por trazer de volta ao mercado o timbre discreto e peculiar da cantora (a EMI tem discos melhores de Carmen no acervo que mereciam prioridade). Mesmo assim, não há como resistir às inacreditáveis versões em português (em ritmo de samba) de três standards americanos: Smoke Gets in Your Eyes (Fumaça nos Olhos), Cry Me a River (Teu Castigo) e Fly Me to the Moon (Em Outras Palavras). Com ótima dicção e algo ligeiramente lamentoso na voz, Carmen traça sambas de dor-de-cotovelo como ninguém. É o caso de Esquece (Julio Louzada/ Jorge Gonçalves) e a vingativa Incompatibilidade (Carmen Lúcia).(Rodrigo Faour)