BASTA UM TAMBOR BATER

Parceiro low-profile de Ivan Lins, Celso Viáfora abandona o ecletismo que caracteriza seu trabalho como compositor (com escalas no baião, balada e valsa, por exemplo) para dedicar todo um álbum ao samba. O paulista acaba fazendo bonito neste projeto conceitual, no qual - sem anular sua personalidade criativa - se encaixa humildemente em variados formatos de samba, como se fizesse uma versão modesta e despretensiosa do Estudando o Samba de Tom Zé. Letrista arguto e melodista de recursos, Viáfora faz de Basta um Tambor Bater uma agradável viagem por varias tonalidades do batuque, sem no entanto descaraterizar-se. O resultado, sem muito esforço, pode ser classificado como um dos bons discos de samba do ano de 2001.

Viáfora mostra desenvoltura no léxico do samba de feitio clássico, que dá as caras na maior parte do disco. Boas composições como Mais Bonito, Lá Vem Você ou Sonhando no Trilho resgatam a tradição do samba urbano de Noel e Cartola, sem incorrer no saudosismo. Mesmo porque boa parte das letras do disco vem recheadas de uma malandragem bem contemporânea, plena de humor (Sonhando..., Pimenta de Cheiro e especialmente em Bola Cheia). O compositor passeia sutilmente pelo partido alto com Dia Lindo, resgata um certo sabor de samba rural com Tabaréu e, modesto, busca o referendo de Beth Carvalho (que dá uma canja em Chora). Após se dar ao luxo até de incorrer no pagode romântico (A Gente Quase Não se Vê), Viáfora termina o álbum em clima de festa, com duas canções já gravadas por Ivan Lins. O sambão carnavalesco inspira Emoldurada e a folia mais popular que nunca é a base para Papai Noel de Camiseta, que tem a participação dos percussionistas-mirins da comunidade de Paraisópolis (SP).(Marco Antonio Barbosa)