NO LAGO DO OLHO
Cid Campos (2001)
Crítica
Cotação:
Em algum ponto entre a vanguarda paulista e o pop mais (na medida do possível) convencional, situa-se a música de Cid Campos. Filho do poeta Augusto de Campos, amigo de concretistas "históricos" como Décio Pignatari e José Lino Grünewald e colaborador de artistas "cabeça" como Adriana Calcanhotto e Arnaldo Antunes, Cid cercou-se dessas amizades para concretizar seu No Lago do Olho. O resultado é uma curiosa síntese de influências a princípio indigestas para o ouvido médio, que retrabalhadas por Cid compõem uma interessante proposta para a tradição da MIB - Música de Invenção Brasileira, uma linhagem que vem de Tom Zé, passa por Arrigo Barnabé e desagua em Arnaldo Antunes.
. As faixas de No Lago do Olho têm basicamente duas procedências. Umas são canções escritas pelo próprio Cid, com um formato mais pop; outras, a maioria, são versões musicadas de versos concretistas escritos pelos já citados poetas e alguns outros. O efeito (intencional) quase sempre é de estranhamento. As vozes que declamam/cantam os poemas ganham proeminência sobre os instrumentos: ecos e superposições vocais realçam essa intenção. O caráter "combinatório" dos versos concretistas ganha vida de maneiras inusitadas, como na mântrica versão de Life, de Décio Pignatari, ou na voz de Haroldo de Campos, dobrada/distorcida, entoando seu Crisântemo. Há ritmos quebrados e alguma dodecafonia em Sairótsih, com o poeta Walter Silveira cuspindo vocais indistintos. Guitarras guincham em O Comedor de Cachorro e Banheiro Público, assim como na agressiva Máximo Fim (na qual Arnaldo Antunes pontifica); Lenora de Barros fornece versos e voz para a hesitante Desktop, que mistura samba desconjuntado a uma boa levada de baixo e teclados.
Essa primazia do texto não impede que o álbum tenha momentos bastante, digamos "musicais". Apertar o Cinto (de Grünewald) ganha roupagem mais palatável, com linha de baixo (quase) suingada e um bom trabalho percussivo. Uma sugestão de baião contamina o ritmo da simpática Corredeira, parceria de Cid e Péricles Cavalcanti. Igualmente agradável é a participação de Adriana Calcanhotto em Êxtases, outra de Cid/Péricles (com letra de Augusto de Campos). Na trinca de canções "pop" que abre o disco (O Olho do Lago, ETC e Vamp Neguinha) Cid se mostra bom compositor e arranjador arguto. Entre bizarrias e arroubos legítimos de criatividade, o que se depreende da obra de Cid Campos é um desejo de recusa do convencional e a coragem de buscar novos rumos. Só isso já basta para destacá-lo na atual música brasileira. (Marco Antonio Barbosa)
. As faixas de No Lago do Olho têm basicamente duas procedências. Umas são canções escritas pelo próprio Cid, com um formato mais pop; outras, a maioria, são versões musicadas de versos concretistas escritos pelos já citados poetas e alguns outros. O efeito (intencional) quase sempre é de estranhamento. As vozes que declamam/cantam os poemas ganham proeminência sobre os instrumentos: ecos e superposições vocais realçam essa intenção. O caráter "combinatório" dos versos concretistas ganha vida de maneiras inusitadas, como na mântrica versão de Life, de Décio Pignatari, ou na voz de Haroldo de Campos, dobrada/distorcida, entoando seu Crisântemo. Há ritmos quebrados e alguma dodecafonia em Sairótsih, com o poeta Walter Silveira cuspindo vocais indistintos. Guitarras guincham em O Comedor de Cachorro e Banheiro Público, assim como na agressiva Máximo Fim (na qual Arnaldo Antunes pontifica); Lenora de Barros fornece versos e voz para a hesitante Desktop, que mistura samba desconjuntado a uma boa levada de baixo e teclados.
Essa primazia do texto não impede que o álbum tenha momentos bastante, digamos "musicais". Apertar o Cinto (de Grünewald) ganha roupagem mais palatável, com linha de baixo (quase) suingada e um bom trabalho percussivo. Uma sugestão de baião contamina o ritmo da simpática Corredeira, parceria de Cid e Péricles Cavalcanti. Igualmente agradável é a participação de Adriana Calcanhotto em Êxtases, outra de Cid/Péricles (com letra de Augusto de Campos). Na trinca de canções "pop" que abre o disco (O Olho do Lago, ETC e Vamp Neguinha) Cid se mostra bom compositor e arranjador arguto. Entre bizarrias e arroubos legítimos de criatividade, o que se depreende da obra de Cid Campos é um desejo de recusa do convencional e a coragem de buscar novos rumos. Só isso já basta para destacá-lo na atual música brasileira. (Marco Antonio Barbosa)
Faixas