A LUA E O CONHAQUE
Délcio Carvalho (2000)
Crítica
Cotação:
A Lua e o Conhaque é uma ótima oportunidade para que se prove de uma vez por todas que Délcio Carvalho é muito mais que o parceiro de Dona Ivone Lara em Sonho Meu e Acreditar. Não que isso seja pouco. Se só tivesse composto esses dois clássicos com a primeira dama do samba, Délcio já teria seu lugar assegurado no panteão de glória da música brasileira. Mas há ainda muitos outros sambas para se ouvir e registrar nesse novo disco do cantor e compositor fluminense nascido em Campos há 61 anos. Para começar, Délcio é um ótimo cantor, o que até então pouca gente sabia, já que seu último disco, Afinal, de 1996, passou totalmente em branco e já que ele raramente se apresenta em shows. Além disso, Délcio sabe como poucos cercar-se da fina flor da música brasileira – os músicos reunidos em A Lua e o Conhaque são uma atração à parte (a direção musical é de Afonso Machado, bandolinista do Galo Preto). Abrindo o disco, Hélio Delmiro faz misérias nos violões em Fio da Meada, dispensando por completo qualquer outro instrumento além da voz de Délcio. Logo em seguida temos Zeca Pagodinho dividindo o microfone em Sonho Meu, com a intimidade de quem canta a célebre melodia em rodas de samba há muitos e muitos carnavais. A faixa-título, com belo arranjo do maestro Cristóvão Bastos, sozinho ao piano, traz um presente de luxo aos ouvintes: a voz cristalina de Zezé Gonzaga, uma bênção. Participações ainda há outras de destaque: Celia Vaz assina o arranjo de Samba do Coração (parceria de Délcio com Maurício Tapajós, resgatada do fundo da gaveta), toca violão e ainda dá uma canja nos vocais, assim como a cantora Áurea Martins, em Melancolia, dolente samba-canção de melodia sinuosa, envolto em belo arranjo do co-autor Luiz Moura. Pena que a voz marcante de Áurea não tenha recebido o tratamento merecido na mixagem, e tenha ficado tão flat. Tem ainda Sivuca, no inesperado tango (!) Sem Pressa de Chegar, parceria de Délcio com Capiba (!!), tão insólita quanto deliciosa. E ainda uma ampla variedade de fortes candidatos a hits de roda de samba: Ao Amanhecer, Lá Fora, Velha Embarcação e principalmente Antigüidade, uma homenagem à velha guarda do samba. Exceção feita à capa, que não reflete e qualidade da produção, é um discaço, à altura do talento de Délcio.(Nana Vaz de Castro)
Faixas