EBONY VOX
Ebony Vox (2000)
Crítica
Cotação:
Foram-se os tempos gloriosos de Tim Maia e Cassiano, mas o soul brasileiro resiste aos trancos e barrancos, com um punhado de artistas que, se não chegam a constituir um movimento, guardam muitas semelhanças estéticas. Da Ed Motta e Max de Castro (que primam pela sofisticação) a Pepê & Neném e Fat Family (que buscam as paradas de sucesso), o denominador comum é a voz, treinada nos caminhos melódicos sinuosos do rhythm’n blues, mas sempre aberta a alguma infiltração de jazz ou samba. Em seu segundo disco, o Ebony Vox é um grupo – vocal – que chega com bala para exigir sua inscrição no primeiro time do clube do Soul Brasil. Formado por Alexandre Lucas, Alexandre Dantas e Júlio Borges, que passaram por bandas como o Fanzine e o Conexão Japeri pós-Ed Motta, o Ebony gravou um disco em 1998 para a BMG que passou em brancas nuvens. Acrescido agora de Abdullah (que fazia vocais nos shows de Gabriel o Pensador), o grupo carioca aposta no reconhecimento em disco produzido por Leandro Lehart, líder do grupo de pagode Art Popular. As armas de maior calibre do Ebony são as baladas, que o quarteto traça com segurança e emoção. Caso de Todo Esse Amor (com participação de Pepê & Neném), Jura e É o Fim, composta Lucas, Dantas e Borges, e gravada originalmente (com participação do próprio Ebony) no Acústico MTV Art Popular – na nova versão, Lehart reforça os vocais. Há faixas mais funks e eletrônicas, que não ficaram tão boas: Com Dinheiro É Mole (Quero Ver É Duro) (parece coisa do Casseta & Planeta!), Vai à Luta e Provoca (uma espécie de reprocessamento do Heloísa Mexe a Cadeira, de Vinny). No departamento balanço, o Ebony se sai melhor em Eu Te Vejo em Tudo (que tem uma grande força de Ed Motta) e Horizonte, um misto de The Fevers e Steely. Um avanço em relação ao seu primeiro disco é a ausência de covers de músicas famosas – mesmo You Make Me Feel Brand New, dos Stylistics ganha uma bela versão, em vozes-e-violão, estilo Take 6. Mas, como boa parte do soul brasileiro dos anos 80 para a frente, Ebony Vox padece com uma produção afeita à pasteurização e com alguns tiros na água numa vã tentativa comercial. Você Vai Lembrar, de Michael Sullivan e Carlos Colla, com arranjos de Lincoln Olivetti, podia figurar num disco do Só Pra Contrariar, com suas tiradas como "me acende com teu fogo". A baba escorre em Teu Amor Não É Pra Mim e há um excesso de bobagem no ragga Show de Bola. Não fosse por elas, teríamos aí um notável CD de soul brasileiro.(Silvio Essinger)
Faixas