DO CÓCCIX ATÉ O PESCOÇO

Se a MPB está combalida (há quem diga falida) e com cada vez mais lançamentos etéreos e sem sentido, é hora de rever conceitos e fórmulas, pois o jogo começou a virar. E quem avisa é Elza Soares em Do Cóccix Até o Pescoço. Com aquela voz de timbre singular e único, Elza volta magnífica, sob a direção artística e filosófica de José Miguel Wisnik e produção de uma grande novidade, o produtor Alê Siqueira. Dura na Queda, feita por Chico Buarque em homenagem à própria cantora, contém os versos de uma vida inteira, abrindo o caminho para o funk errático, mas nem um pouco baixo astral, de Jorge Benjor, Hoje É Dia de Festa. Uma Haiti quase esquisita mostra que Elza além de cantora já trilhou caminho de uma rapper de voz poderosa. Canção cujo um dos versos dá nome ao CD, Dor de Cotovelo é Caetano Veloso passando para Elza de bandeja tudo o que o ciúme provoca (Elza que o diga). Com letra de Wisnik, Bambino, composição de Ernesto Nazareth, parece ter sido uma das canções feitas sob medida. Encaixe perfeito de harmonia e melodia, de uma cantora de samba perfeita.

Convertida à modernidade, Elza segue com A Carne, gravada pelo grupo Farofa Carioca e segundo a própria mote de todo o trabalho e Eu Vou Ficar Aqui de Arnaldo Antunes. Momento sublime à vista. É Fadas de Luiz Melodia, transformada num tango invocado e belo. Flores Horizontais, poema de Oswald de Andrade musicado por Wisnik é perfeita: lírica, tranqüila e dividida entre a raiva e a tristeza pelo canto de Elza. Não importa o que Elza faça daqui em diante, nem se gravará um disco semelhante, mas se esse é o começo de algo na carreira da cantora, podemos ficar tranqüilos.(Filipe Quintans)