KAYA N'GAN DAYA
Gilberto Gil / Skank / Paralamas do Sucesso (2002)
Crítica
Cotação:
Baiano legítimo, Gilberto Gil apostou em uma abordagem "mineira" em seu já decantado tributo a Bob Marley. Sabendo do extremo purismo que caracteriza os fãs do rastaman supremo, Gil evitou mexer muito nos clássicos do reggae contidos neste CD, tanto na lírica quanto na musicalidade. Deu muito certo, se pensarmos em termos de competência (técnica e artística) e sobretudo de propriedade. Patrono de todo o reggae brasileiro, Gil consegue driblar as amarras do fundamentalismo e mesmo sem alterar muito os registros originais, soa como si mesmo - e não como um cover de Marley. O que falta de surpresa no resultado final (e falta, especialmente para os conhecedores mais profundos de BM) é compensado por uma rica e suingada amostragem de timbres e levadas. E também pela intangível emoção; sabemos que Gil é, antes de tudo, um apaixonado pela obra de Marley e isso transparece em Kaya n’Gan Daya. Qualidade técnica e amor genuíno fazem do disco um artigo que vale a pena, acima de maiores questionamentos sobre (falta de) criatividade.
E olha que nem tudo ficou tão igual assim. Gil não se furtou a inserir algumas nordestinidades bem sacadas na mistura, como em Three Little Birds - na qual a cadência do forró se mescla ao sotaque jamaicano dos vocais femininos das I-Three (que cantaram com Marley), gerando um híbrido dos mais sacolejantes. Ou na aproximação com o Recôncavo Baiano que sobrevêm em Lick Samba, canção das menos conhecidas de Marley e que, apesar do nome, nunca foi um samba. Não que Gil tome ciência do fato! Noutras faixas, a brasilidade assume ares mais explícitos, como em Turn Your Lights Down Low e na versão de Lively Up Yourself, uma das poucas que ganhou versos em português (Eleve-se Alto ao Céu). O uso da sanfona e de uma bem azeitada sessão percussiva fecha a equação. Trata-se de reggae baiano para valer, sem confusões com samba-reggae. Diminuindo sua porção brasileira e acentuando a jamaicana, Gil completa sem sobressaltos o resto do disco. Buffalo Soldier, Positive Vibration, One Drop e Tempo Só (Time Will Tell) são pura celebração da alma de Marley. Impregnado do espírito de Marley, o baiano ainda assina uma única inédita (Table Tennis Table), reggaezinho solerte que não chega a fazer feio junto aos clássicos. (Marco Antonio Barbosa)
E olha que nem tudo ficou tão igual assim. Gil não se furtou a inserir algumas nordestinidades bem sacadas na mistura, como em Three Little Birds - na qual a cadência do forró se mescla ao sotaque jamaicano dos vocais femininos das I-Three (que cantaram com Marley), gerando um híbrido dos mais sacolejantes. Ou na aproximação com o Recôncavo Baiano que sobrevêm em Lick Samba, canção das menos conhecidas de Marley e que, apesar do nome, nunca foi um samba. Não que Gil tome ciência do fato! Noutras faixas, a brasilidade assume ares mais explícitos, como em Turn Your Lights Down Low e na versão de Lively Up Yourself, uma das poucas que ganhou versos em português (Eleve-se Alto ao Céu). O uso da sanfona e de uma bem azeitada sessão percussiva fecha a equação. Trata-se de reggae baiano para valer, sem confusões com samba-reggae. Diminuindo sua porção brasileira e acentuando a jamaicana, Gil completa sem sobressaltos o resto do disco. Buffalo Soldier, Positive Vibration, One Drop e Tempo Só (Time Will Tell) são pura celebração da alma de Marley. Impregnado do espírito de Marley, o baiano ainda assina uma única inédita (Table Tennis Table), reggaezinho solerte que não chega a fazer feio junto aos clássicos. (Marco Antonio Barbosa)
Faixas