A Flor e o espinho

Guilherme de Brito (2003)

2003
Crítica

Cotação:

Na hora de fazer seu segundo disco solo (isso em uma carreira que ultrapassa as seis décadas), Guilherme de Brito quis cantar as músicas que o fizeram famoso. O approach foi bem diferente do usado em seu trabalho anterior, Samba Guardado, que só trazia músicas inéditas; o resultado final, entretanto, atingiu a mesma beleza enternecedora. O octogenário compositor não pretendeu eclipsar as interpretações mais que definitivas já dadas, ao longo dos anos, para clássicos como Folhas Secas, Quando Eu me Chamar Saudade ou a faixa-título. Ao recorrer às mais puras simplicidade e despretensão, Brito emociona muito mais. Ponto-chave para tanto é a participação do Trio Madeira Brasil, que empresta elegância sem ostentação aos arranjos. Sem maiores frescuras ou refinamentos, só com as cordas do Trio e alguma percussão esparsa, A Flor e o Espinho arranca arrepios nos cultores do bom samba, tal é a impressão de testemunharmos um documento histórico — a voz de Guilherme, marcada pelo tempo mas ainda limpa, repassando suas glórias. Mas tudo sem nostalgia ou melancolia (apesar do tom sombrio de boa parte das parcerias de Brito e Nelson Cavaquinho).

Prova da disposição nada saudosista de Guilherme foi o modo como o compositor encaixou Distância (sua e de Fagner) em meio ao repertório de pérolas da safra com Nelson. A música não destoa nem na forma, nem no conteúdo (apesar de seu arranjo meio influenciado pelo fado) dos clássicos selecionados para o resto do álbum. O resto do disco vai como descrito antes: simples, elegante, bonito. As participações especiais (Moacyr Luz, Beth Carvalho, Elton Medeiros), todas insuspeitíssimas, se conjugam ao casamento já perfeito entre o Madeira Brasil e Guilherme. Os clássicos já citados não merecem reparo, mas talvez melhor ainda seja redescobrir (ou, para a grande maioria dos ouvintes, ouvir pela primeira vez) sambas menos conhecidos como O Dono das Calçadas ou Minha Honestidade Vale Ouro. Ao final, com Minha Festa — enfim, uma letra alegre — Guilherme despede-se com uma nota mais alto-astral, o que incita nos ouvintes uma renovada esperança por mais e mais trabalhos do compositor. Antes tarde... (Marco Antonio Barbosa)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 O dono das calçadas Ouvir
2 Pranto de poeta Ouvir
3 A flor e o espinho Ouvir
4 Minha honestidade vale ouro Ouvir
5 Mesa farta Ouvir
6 Graça Ouvir
7 Folhas Secas Ouvir
8 Distância Ouvir
9 Gotas de luar Ouvir
10 Meu Violão Ouvir
11 Quando eu me chamar saudade Ouvir
12 Minha Festa Ouvir
 
A Flor e o espinho