NOEL POR IONE
Ione Papas / Noel Rosa (2000)
Crítica
Cotação:
Cantora dos bares de Salvador, a baiana (também atriz) Ione Papas ganhou em 1989 um concurso para novos talentos da gravadora Dabliú, Radio Musical FM e Moinho Santo Antonio. Cantando o que? Noel Rosa, cujo repertório já alimentava o show Seu Garçon, Faça o Favor, estrelado por ela dois anos antes, no mítico teatro Vila Velha. Ex- integrante dos corais do Mosteiro de São Bento e do Madrigal da Universidade Católica de Salvador, Ione ainda respondeu sobre a vida e obra do mesmo Noel no programa Sem Limite da extinta TV Manchete. Seu profundo conhecimento da obra do genio precoce da Vila desvela-se na escolha do repertório desse disco. Ione fugiu das músicas mais surradas e desencavou pérolas obscuras como o samba No Baile da Flor de Lis (gravada por Aracy de Almeida somente em 1958), o samba exaltação Na Bahia (feito em 1936 para a trilha do filme Cidade Mulher, dirigido por Humberto Mauro), transformado num maxixe/afoxé (incluindo berimbau e tambores de candomblé) e o raro instrumental Choro (cujo titulo original seria Baianinha), de 1929, anotado em partitura por Jacob do Bandolim e tocado no disco pelo grupo Choro, Seresta & Cia, arranjo de Mário Moretti. Também entram no elenco do CD o grupo revelação do pagode (verdadeiro) paulistano Quinteto em Branco e Preto numa versão atualizada de Capricho de Rapaz Solteiro, lançado em 1933 por Mário Reis. O fox-trot Você Só...mente ganhou acento dixieland, enquanto a moda Minha Viola veio costurada pela viola perita de Miltinho Edilberto. Generosa, Ione abre o disco a outras cantoras como Jussara Silveira (na agulhada Quantos Beijos) e Simone Guimarães, que exagera nos alongamentos vocais à Elis Regina na versão ralentada de Coração. Convertida ao culto de Noel ao ouvir a monumental Aracy de Almeida, Ione não poderia deixar de incluir Triste Cuíca, um clássico na voz anasalada da Dama da Central, além de Cansei de Pedir, São Coisas Nossas, Rapaz Folgado (da célebre polêmica com Wilson Batista) e o épico Quando o Samba Acabou. A fã não teve medo de encarar o mito e prestou-lhe um belo tributo às vésperas dos 90 anos de seu nascimento.(Tárik de Souza)
Faixas