A COR DO PÔR-DO-SOL

Desde o álbum Mãos (1987) Ivan Lins não nos brindava com um CD tão interessante. A Cor do Pôr-do-Sol tem 15 faixas, na grande maioria inéditas, das quais dez são muito expressivas. Coisa rara no atual e comodista mercado da boa MPB. Este disco reafirma algo que já vinha acontecendo com o compositor em seus álbuns dos anos 90: a variedade de parceiros, um modo de cantar mais suave e a inclusão de músicas com sabor caribenho. Se a faixa de abertura de seu penúltimo CD (natalino) era a salsa Feliz Navidad (com participação de José Feliciano), o atual abre com Cuidate Más, outra deliciosa incursão de Ivan pelas praias cubanas – uma das únicas duas faixas que conta com letra de seu parceiro mais fiel, Vitor Martins. A outra é a balada (ótima, bem ao estilo da dupla) Eu Sabia, já gravada pelo cantor Tárcio. Ainda no gênero latino, há Vento e Areia (parceria com Dudu Falcão) – uma salsa pop, com direito a toques orientais. O romantismo derramado não poderia faltar. Há diversas canções nessa categoria, tais como Voa (dele com Leda Selma), Dois Córregos (tema do filme homônimo, agora bem letrada por Caetano Veloso, inaugurando nova parceria) e a faixa-título, também alusiva a filmes, com bela letra de Celso Viáfora ("De cinema em cinema/ Vamos nos amando pela vida afora/ Mais uma hora/ Outra cena...") e violão levemente flamenco. O samba-canção abolerado Vamos Indo (com Aldir Blanc) é envolvente, bem como os autênticos sambas Na Areia, Na Beira do Mar (com Cláudio Jorge), que tem refrão chiclete ("Meu amor vem me ver/ Vem saber, vem contar/ Quantas vezes escrevo teu nome na areia, na beira do mar") e Emoldurada (outra com Viáfora). O Ivan político – mais comum nos anos 70 – volta à cena no funk Ladrão (com Totonho Villeroy) somando sua voz às do quarteto MPB/4, com direito a citação da letra de Formigueiro (1979) em forma de rap. "Aqui nessa terra tá assim de ladrão/ Ladrão de gravata, ladrão de casaca/ Ladrão de maleta assaltando a nação/ Ladrão bumerangue é ladrão no palanque/ Ninguém mais agüenta, ladrão de ladrão". Para ser excepcional, o disco poderia ter menos faixas, dispensando releituras como a não tão inspirada Mulher Eu Sei (Chico César) ou a bela Lua de São Jorge (Caetano) que aparece aqui em versão sem maior impacto. As demais inéditas – Nada Sem Você, Instante Eterno e Olimpo (ode aos atletas olímpicos) – também ficam em desnível comparadas às demais. Pulando essas faixas, veremos um Ivan antenado aos novos tempos, com a ajuda dos teclados modernizantes de Márcio Lomiranda, em canções inspiradas, com muito vigor.(Rodrigo Faour)