SÓ NÃO DANÇA QUEM NÃO QUER
Jacinto Silva (2000)
2000
Manguenitude
97164
Crítica
Cotação:
Figura lendária da cena do coco nordestino que tem Luiz Gonzaga, Ary Lobo e Jackson do Pandeiro como sua Santíssima Trindade inspiradora, o alagoano Jacinto Silva iniciou carreira em 1942, aos oito anos de idade. Mas só agora, conservadíssimo na foto da capa aos 64 anos, estréia para uma platéia mais informada do sul maravilha, quase simultaneamente ao desembarque do tributo que lhe presta Silvério Pessoa (ex-Cascabulho) em Bate o Mancá. Criador de um estilo chamado de "coco sincopado", que guarda parentesco com o quebra língua dos emboladores e o verso metrificado dos cantadores a quem costuma consultar ("faço questão de mostrar minhas músicas para saber a opinião deles", garante), Jacinto é fera na divisão ritmica. Para comprovar isso, vá direto à faixa Coco Trocado, onde ele conduz o fraseado na direção contrária à melodia, algo semelhante ao desenvolvimento contraponteado de Carreiro Novo. Desse coco entortado ("saio desmantelando e depois vou consertando", define), saiu o refrão "bate o mancá", que titulou a homenagem de Silvério, a voz do dueto Teste Para Cantador, outra referência ao virtuosismo de Jacinto. Ainda assim, ele não está imune aos percalços do mercado e força a mão no duplo sentido de Fumando Mais Tonha (o refrão reprisa "vou fumar mais Tonha", sem a engenhosidade, por exemplo, do ultimo petardo de Bezerra da Silva onde ele manda "a coca aí na geladeira"). A faixa de abertura Chora Bananeira apoia-se no refrão (melódico) folclórico utilizado com sucesso por Edu Lobo (e Capinam) em Cirandeiro, gravado em 1966 pelo compositor em dupla com Maria Bethânia. Em suma, nem tudo é original em Jacinto Silva, incluindo o timbre vizinho de sua maior influência, Jackson do Pandeiro. Mas sem dúvida, ele está entre os mestres depuradores da Velha Escola. Benvindo reforço.(Tárik de Souza)
Faixas