INTÉRPRETE
Jair Rodrigues / Jair Oliveira / Jairzinho Oliveira (2002)
Crítica
Cotação:
Intérprete, Jair Rodrigues sempre foi. O que, então, este álbum traria de diferente em uma carreira tão longa e cheia de altos e baixos? Uma ousadia a mais na escolha do repertório (devidamente supervisionada pelo filho e artista reunido Jair Oliveira), que inclui desvios um tanto surpreendentes em termos de canções e compositores. Na sonoridade, Jair reencontra-se consigo mesmo. Ou seja, com a tradição do samba-jazz dos anos 60, o que (graças em parte aos artistas jovens da mesma gravadora Trama) o torna, paradoxalmente, mais moderno do que nunca. O sambão rasgado, populista mesmo, no qual Jair sempre se refestelou, fica meio de escanteio, em prol de um som mais polido, de timbres sutis e ligeiramente nostálgicos. Fica, entretanto, um estranho - melhor dizendo, curioso - gosto de choque temporal, ao ouvir-se o velho Jair de sempre, derramando-se sobre alguns números mais que batidos (como o cavalo de batalha Arrastão) sob o verniz lustroso da produção do novo Jair (Oliveira). O vozeirão continua em cima, conferindo vigor e autenticidade ao resultado final.
O Jair "moderno" faz bonito, por exemplo, em Zigue Zague, na qual se assume como patrono do samba-rap e (com a ajuda de Rappin Hood, Simoninha e Jairzinho), lasca um híbrido entre a rusticidade do gueto e a maciez do registro sambístico pós-moderno by Trama. E também, incrível, no resgate de veteranos aparentemente empoeirados, que ressurgem de bola cheia. O Sérgio Ricardo de Zelão, cheio de suingue, o balanço impecável de Mineira (Paulo Cesar Pinheiro) e o samba elegante de João Nogueira (Banca do Distinto), tudo soa barra-limpa. Mezzo samba-jazz, mezzo samba-rock, como a moçada da gravadora paulista tanto gosta. Nos momentos de mistura mais radical a coisa ameaça desandar, mas equilibra-se bem. Como no choque entre a contundência pop-rock de Lobão e a ironia fina de João Bosco, na boa versão de Incompatibilidade de Gênios, ou nos inesperados acenos ao Nordeste (Meu Pé de Serra) e ao samba-canção (Perfil de São Paulo). Falha mesmo só na recriação dispensável de Arrastão, confusão entre reverência elegante e passadismo puro.(Marco Antonio Barbosa)
O Jair "moderno" faz bonito, por exemplo, em Zigue Zague, na qual se assume como patrono do samba-rap e (com a ajuda de Rappin Hood, Simoninha e Jairzinho), lasca um híbrido entre a rusticidade do gueto e a maciez do registro sambístico pós-moderno by Trama. E também, incrível, no resgate de veteranos aparentemente empoeirados, que ressurgem de bola cheia. O Sérgio Ricardo de Zelão, cheio de suingue, o balanço impecável de Mineira (Paulo Cesar Pinheiro) e o samba elegante de João Nogueira (Banca do Distinto), tudo soa barra-limpa. Mezzo samba-jazz, mezzo samba-rock, como a moçada da gravadora paulista tanto gosta. Nos momentos de mistura mais radical a coisa ameaça desandar, mas equilibra-se bem. Como no choque entre a contundência pop-rock de Lobão e a ironia fina de João Bosco, na boa versão de Incompatibilidade de Gênios, ou nos inesperados acenos ao Nordeste (Meu Pé de Serra) e ao samba-canção (Perfil de São Paulo). Falha mesmo só na recriação dispensável de Arrastão, confusão entre reverência elegante e passadismo puro.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas
Vou festejar (Jorge Aragão, Dida, Neoci)
Se Deus quiser (Wando, Jair Rodrigues)
Se Deus quiser (Wando, Jair Rodrigues)
Ziguezague (Alberto Paz, Edson Medeiros)
Vinheta: São Paulo em tempo de saudade (José Domingos)
Mãe de verdade (Jair Oliveira)