POR FORÇA DO HÁBITO
Jamelão (2000)
2000
Som Livre
4248-2
Crítica
Cotação:
Na faixa dos 86 anos, o carioca José Bispo Clementino dos Santos, o Jamelão, já começa a virar lenda. Continua gravando com essa idade? Conserva o vozeirão? Ainda tem o que dizer em seus discos? Por Força do Hábito (a começar pelo título bem sacado), produzido pelo próprio Jamelão, responde de forma positiva a todos esses quesitos. O mais representativo cantor (ele odeia a palavra puxador) de samba-enredo, um dos introdutores do partido alto no mercadão, bamba nos sambas carnavalescos e no arame farpado das desilusões amorosas, ele continua em forma. Neste disco, Jamelão revela um seguidor do genial Lupicínio Rodrigues (1914-1974) seu grande fornecedor de sambas-canções doloridos, Alberto Gino, autor de nada menos de 11 das 14 faixas. A afiada Orquestra Tabajara, dirigida por Severino Araújo (outro fenômeno de longevidade) fornece, com o revezamento de seu naipe de sopros, o suporte adequado para o metal vocal do cantor. Com exceção de Beijo Molhado, que surpreende pela pegada rítmica levemente funk e da biográfica Não Vou Mudar ("com esta voz que Deus me deu/ sou simplesmente Jamelão"), inclinada ao fox, todas as demais faixas transcorrem na atmosfera enfumaçada dos sambas-canções onde expõem-se rusgas (Não Abuse Não, Suborno) ou delírios românticos (Êxtase, Armadilhas do Amor). Sem o brilhantismo do mestre, mas com competência Alberto Gino dá um banho de loja nas velhas questões amorosas. Fala nas horas mortas da solidão quando os canais de TV estão fora do ar (Mal de Amor), nas cobranças que estressam o parceiro (Direito de Ir e Vir) ou na comunhão do orgasmo de Beijo Molhado ("sempre chegamos juntos/ corpo e alma explodem/ numa só emoção"). Octogenário sim, mas bem distante da validade (artística) vencida de muito rival mais moço.
(Tárik de Souza)
Faixas