JOÃO BOSCO NA ESQUINA
João Bosco (2000)
Crítica
Cotação:
Já se vai um longo tempo desde que João Bosco era o nosso latin lover engajado. Daqueles anos 70 para cá, o seu som ficou cada vez mais percussivo, acumulando influências as mais diversas – dos ritmos interioranos brasileiros até afrocaribenhos e orientais, passando pelo jazz. Seu novo CD é elegante, mas não totalmente digerível à primeira audição. É rico em detalhes. Nove das doze faixas foram letradas por seu filho Francisco Bosco, que, se ainda não é o parceiro ideal, acerta a mão em vários momentos. O reggae Mama Palavra é um bom exemplo. Tem uma letra inspirada que poderia perfeitamente munir o repertório de nossos grupos do gênero, normalmente tão obcecados por temáticas maconheiras. Outra boa canção do disco é Flor de Ingazeira, de melodia muito envolvente na qual a letra fica até em segundo plano. Em Beirando a Rumba, seu jogo de palavras cai como uma luva para as interferências onomatopéicas vocais de Bosco. Os poemas de Francisco são bem construídos, só precisam de um pouco de ironia para combinar com o estilo mais gaiato e bem humorado do pai. O repertório do CD se completa com três versões assinadas por João e filho para standards cubanos e americanos. Um deles é o velho (e eterno) Siboney, canção folclórica feita em homenagem à cidade cubana, adaptada e trazida ao sucesso por Ernesto Lecuona (e seus Cuban Boys) em 1929 e que virou clássico internacional. Também vertidas pela dupla são as faixas de abertura e fechamento do disco, respectivamente, Passos de Amador (Fools Rush In) e Amar, Amar (True Love). A primeira, de Johnny Mercer e Rube Bloom, foi composta em 1940, e a segunda, de Cole Porter, foi feita para o filme Alta Sociedade, de 1956 (e já ganhara outra versão gravada por Cauby Peixoto em 1957 com o nome de Amor Verdadeiro). A cozinha instrumental é de primeira grandeza, com direito a banda repleta de músicos famosos e orquestra a cargo do onipresente Jaques Morelenbaum. O conceito do disco – das "esquinas" – que seria o "indefinido" ou as "interseções" de caminhos musicais é um pouco confuso. Ao término de sua audição, fica a sensação de ter-se ouvido algo arrojado, de grande qualidade, mas sem um fio condutor muito claro. Vale pelo requinte rítmico, cada vez maior, de Bosco.
(Rodrigo Faour)
Faixas