EU SOU LIA

Lia de Itamaracá (2000)

2000
Crítica

Cotação:

A simplicidade marca o primeiro CD da cirandeira Lia de Itamaracá, que em 1967 teve sua Ciranda de Lia gravada com sucesso por Teca Calazans e, de uns tempos pra cá, saiu de Pernambuco para turnês na Europa e em capitais brasileiras. Lia (Maria Madalena Correia do Nascimento) chegou a gravar um LP em 1977, pelo qual recebeu apenas 20 exemplares para distribuir e nenhum centavo. A força quase hipnótica de sua ciranda emenda uma faixa na outra – e cada faixa já funde três ou quatro músicas – dispensando acompanhamento harmônico e baseando-se apenas na voz rascante de Lia e na percussão tão tipicamente pernambucana: tarol, surdo e ganzá. Há ainda o sempre presente saxofone de Bezerra, 82 anos, nos contracantos, acompanhado em algumas faixas de outros metais, que em breves intervenções trazem o ouvinte de volta do transe, colocando os seus pés no chão – no caso, o chão das ruas de Recife e Olinda (Nagô, Nagô, Ele Não Sabe o Que É o Amor). Há também o indispensável coro, fornecendo respostas às indagações de Lia. Quem já ouviu as cantoras do grupo O Mistério das Vozes Búlgaras não há de estranhar tanto assim a emissão vocal tão direta e penetrante da pernambucana, que parece dispensar todos os "filtros" do aparelho fonador tão caros ao bel canto. Entretanto, a nossa Lia, tão misteriosa quanto as búlgaras, tem um estilo particularíssimo, devido ao ritmo constante e catalisador da ciranda – estilo também resgatado por Antonio Nóbrega, que em seus shows, assim como Lia, faz a platéia levantar para dançar, em roda, a ciranda.

No repertório do disco, várias músicas de domínio público, com destaque para Ajoelha, Ajoelha, em que a improvisação da cantora presta homenagem a outras figuras da música pernambucana, como Dona Selma do Coco, Mestre Salustiano e outros. Há também uma espécie de "crônica de costumes" como Roberto Carlos ("Roberto Carlos/ É o rei do iê-iê-iê/ Jamelão cantando samba/ Faz o morro estremecer/ Lia na ciranda/ Também é de primeira/ No baião Luiz Gonzaga/ No frevo Nelson Ferreira"), ou Discoteca de Pracinha ("Me convidaram/ Pra cantar nessa festinha/ No meio dessas mocinhas/ Bonitinhas e tão bacanas/ Elas dançam rock/ Cocotá e discoteque/ Agora vão dar um breque/ Para vir dançar ciranda"). Lançado há alguns meses pela Ciranda Records, juntamente com discos do grupo indígena Fethxa e do Afoxé Oxum Pandá, Eu Sou Lia sai agora com distribuição da Rob Digital, esperando atingir um público maior, ainda aproveitando o boom dos ritmos nordestinos ditos "de raiz" que tanto têm encantado os jovens das capitais brasileiras abaixo da Bahia.(Nana Vaz de Castro)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Eu sou Lia Ouvir
(Paulinho da Viola)
Minha ciranda (Capiba)
Preta cirandeira (Neres - Saúde)

2 Dr. Jorginho Ouvir
(Tina Borges, Lia)
Janaína (D.P.)
Lá em Goiás (Baracho)

3 Copacabana Ouvir
(Baracho)
Lia é Lia (José Gonçalves Ramos)
Loura, morena e mulata (José Custódio)
Roberto Carlos (José de Lima)

4 Discoteca de pracinha Ouvir
(João da Guarabira, Carlos Lima)
Se balança (Fernando Borges)
Boa viagem (Geraldo de Almeida)
Verde do mar (Lia)

5 Chamego de Lia Ouvir
(Fernando Borges, Ozires)
Ciranda do amor (João da Guarabira - Edson Vieira)


6 Meu cachorro Peri Ouvir
(D.P.)
Fui pra escola (D.P.)
Olê, olá (D.P.)
Ajoelha, ajoelha (D.P.)

7 Nagô, Nagô Ouvir
(D.P.)
8 Meus cabelos brancos Ouvir
(Baracho)
9 Ele não sabe o que é o amor Ouvir
(Baracho)
Mal de amor (Neres - Saúde)

10 Eu sou Lia (Ciranda de Lia) Ouvir
(Paulinho da Viola)
 
EU SOU LIA