VINTE E UM ANOS NA ESTRADA

Língua de Trapo (2000)

2000
Crítica

Cotação:

Expoente de um certo tipo de revisão satírica e intelectualizada da música popular brasileira, feita na São Paulo dos anos 80, o Língua de Trapo resiste às decadas e lança seu segundo disco ao vivo consecutivo, Vinte e Um Anos na Estrada (em 95, saiu Língua ao Vivo), com a capa parodiando a de Abbey Road, dos Beatles. Da formação original, heróica nos tempos de Lira Paulistana, sobraram o vocalista Laert Sarrumor (hoje best seller com a série de livros Mil Piadas do Brasil) e o guitarrista Sérgio Gama. A banda que os acompanha, por sua vez, é de primeira – uma constante nos discos do Língua que, como o Premeditando o Breque, faz lá o seu teatro, mas não descuida do humor musical. Gravado ao longo do show Fazendo 21, o disco começa muito bem, com a genial Plano Diabólico, um roquinho meio Odair José, mas cuja letra tem o debochado requinte das rimas nas proparoxítonas (como a Construção de Chico Buarque). Ainda na linha brega escrachada, vem uma vigorosa interpretação do iê-iê-iê Força do Pensamento, clássico do disco Como É Bom Ser Punk, de 85, com sua letra imortal: "Minha namorada/ eu vim lhe confessar/ que eu tenho câncer/ no duodeno e no pulmão/ isso não é nada/ vamos comemorar/ pois eu tenho quinze/ dias de vida, coração." Do mesmo disco, é resgatada a hilariante Country os Brancos, com a letra atualizada para os adolescentes de Brasília que queimaram o índio poucos anos atrás. Outro clássico relido ao vivo é O Homem da Minha Vida, hit de Dezessete Big Golden Hits Super Quentes Mais Vendidos do Momento, de 1986. "Mulher de amigo meu pra mim é homem/ por isso você é o homem da minha vida", canta Laert, vestindo sua melhor Roupa Nova. Por fim, do disco homônimo de estréia do Língua, vêm o tango Quem Ama Não Mata e o grande sucesso de shows da banda, Concheta, canção italiana de tema gastronômico e final trágico. Algumas da músicas posteriores à época de ouro do Língua se sobressaem no disco, caso da sátira a João Gilberto, Cagar É Bom (de Brincando com Fogo, 1991) e o xote O Cookie do Meu Bem, um claro tributo a Genival Lacerda. As outras ficam aquém do potencial da banda, lembrando muito mais o que seus discípulos fizeram. O metapagode Ai Que Vontade, por exemplo, o próprio Casseta & Planeta faria melhor. E o "heavy-pagode etílico", Movido a Álcool (de 1995), com cantor de língua presa e tudo, coincide com a idéia que Mamonas Assassinas tiveram na música Lá Vem o Alemão. Os antigos fãs vão até ficar satisfeitos com o saldo final desse disco, que tem grandes chances de agradar mesmo a quem só conhecia os reflexos do Língua na música satírica-popular brasileira.(Silvio Essinger)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Vinheta de abertura (Dá nela) Ouvir
(Ary Barroso, Francisco Alves)
2 Plano diabólico Ouvir
(Guca Domênico, Laert Sarrumor)
3 Força do pensamento Ouvir
(Carlos Melo)
4 O homem da minha vida Ouvir
(Ayrton Mugnaini Jr.)
5 Fala 1 Ouvir
6 Quem ama não mata Ouvir
(Guca Domênico)
7 Fala 2 Ouvir
8 Ai, que vontade! Ouvir
(Laert Sarrumor)
9 Fala 3 Ouvir
10 Movido a álcool Ouvir
(Laert Sarrumor)
11 Fala 4 Ouvir
12 Cagar é bom Ouvir
(Laert Sarrumor)
13 Fala 5 Ouvir
14 Ouriço na Vila Ouvir
(Carlos Melo, Guca Domênico)
15 Fala 6 Ouvir
16 Bartolo Bar Ouvir
(Carlos Melo)
17 Fala 7 Ouvir
18 Na Mourato Ouvir
(Carlos Melo, Laert Sarrumor)
19 O cookie do meu bem Ouvir
(Laert Sarrumor)
20 Fala 8 Ouvir
21 Country os brancos Ouvir
(Carlos Melo, Lizoel Costa)
22 Fala 9 Ouvir
23 Polca duca Ouvir
(Cézar Brunetti)
24 Piruzinho Ouvir
(Laert Sarrumor)
25 Funk do bilau Ouvir
(Carlos Melo)
26 Rap end Ouvir
(Laert Sarrumor)
27 Concheta Ouvir
(Carlos Melo)
 
VINTE E UM ANOS NA ESTRADA