RETRATO DO ARTISTA QUANDO COISA
Luiz Melodia (2001)
Crítica
Cotação:
Luiz Melodia passou boa parte dos últimos dois anos promovendo seu disco acústico com shows despojados e releituras de sucessos. Quem achava que o padrão iria se repetir em seu novo CD, terá uma boa surpresa. Retrato do Artista Enquanto Coisa é um dos trabalhos mais sofisticados e ecléticos da carreira do cantor, com um repertório majoritariamente inédito. Melodia mais uma vez nada contra a maré; num ano repleto de regravações e discos ao vivo, ele vem um trabalho refinado que pode ficar como um marco em sua carreira.
A peculiar fusão de estilos na qual o compositor (que assina oito das faixas do disco) trabalha desde os anos 70 está em destaque aqui. Melodia passeia por várias nuances da música negra importada (reggae, jazz, funk, blues e até rap) sem perder de vista o samba carioca. As composições podem até não carregar a mesma inspiração dos tempos de Pérola Negra (75), mas são uma demonstração de fôlego e disposição para a variedade. Junto ao guitarrista e produtor Perinho Santana, Melodia optou por arranjos elaborados - sopros e cordas na maioria das faixas. Os violões aparecem em apenas quatro delas.
As baladas são os pontos altos do disco. Como Otimismo, recheada do suingue típico do compositor; Brinde, com sonoridades jazzísticas dentro de um clima "noir" na ótima performance do guitarrista Ricardo Silveira e no baixo acústico de Luiz Alves; ou a faixa-título, na qual Melodia musica versos de Manoel de Barros e faz uma homenagem ao pai Oswaldo. A eterna referência ao samba vem na sutileza de Sempre Comigo - esta com belo arranjo de sopros -, Boa Atmosfera, em clima de gafieira; na irreverente Poderoso Gângster e em Quizumba, que mescla batucada carioca com balanço funkeado. E para quem ainda duvida da capacidade de reciclagem de Luiz, basta ouvir Lorena, que incorpora um trecho de rap (cantado por Mahal, filho do compositor) entremeado à sua bela melodia.(Mônica Loureiro)
Faixas