PIANO COM TOM JOBIM
Tom Jobim / Marcos Ariel (2000)
2000
Humaitá Music
HM 003
Crítica
Cotação:
Embora não tenha composto todas as suas músicas no instrumento que emoldurou sua figura heráldica ("Um cantinho e um violão", de Insensatez não são mera licença poética), Tom Jobim (1927-1994) foi essencialmente um compositor pianista. Ou edipiano, como gostava de brincar. Seus caminhos harmônicos amplos, o jogo de contrapontos são o sonho de todo pianista, como demonstra o carioca Marcos Ariel, mais um a regravar sua obra. Executante experiente, com largo trânsito no mercado externo, ele preferiu o despojamento (característica também do maestro) ao floreio, ao brilhareco. Toca um repertório enxuto de 13 faixas entre clássicos (Garota de Ipanema, Luiza, Lígia, Wave) e temas menos conhecidos (Choro, Olha Maria), com breves comentários pessoais. Em Insensatez, por exemplo, insere leve molejo no contratempo. Só em Teus Braços ganha um breve prefácio e depois desce cristalina. Essa é, aliás, uma boa definição para o seu toque: transparente, cristalino. O que não impede alguma dosada dramaticidade na ralentada Inútil Paisagem. Ou uma ginga mais pronunciada no Samba do Avião, onde o ritmo vem costurado ao desenrolar melódico. Igualmente cadenciado - sem o tom épico desiludido dado por João Gilberto - é o Retrato em Branco e Preto nas lentes de Ariel, que também suinga enquanto desfia o Desafinado. E agrega notas massivas ao ilusório Samba de uma Nota Só. Um Jobim ao ponto. Nem mal, nem excessivamente passado.
(Tárik de Souza)
Faixas

