POR POUCO
mundo livre s/a / Tom Zé (2000)
Crítica
Cotação:
Enquanto o Mundo Livre S/A e O Rappa continuarem no mesmo caminho, ninguém tem o direito de chamar o pop-rock brasileiro de politicamente alienado. Em seu quarto disco, a banda de Recife afia seu discurso lírico-contestador e chega com músicas que não ficam nada a dever (inclusive musicalmente) à boa MPB pensante de décadas anteriores. Bem mais direto que o álbum anterior – o belo mas um tanto hermético Carnaval na Obra –, Por Pouco pode ser conceitualmente resumido pela sua faixa-título. Nela, Fred Zero Quatro faz um diagnóstico preciso e inspirado do sentimento de incompletude do brasileiro, da precariedade permanente do país, das falsas alegrias e esperanças do povo – a ideologia do "votamos no quase honesto pois quase acreditamos nele". Com a potência roqueira de um The Clash, a banda em seguida desanca a lógica de mercado da globalização, que reduz tudo a uma grande promoção comercial, na faixa Concorra a um Carro. As baterias depois se voltam contra o velho Tio Sam e suas armações imperialistas em Lourinha Americana (genial canção de Mestre Laurentino) e no funk Batedores, que traz o aviso: "Não rezamos na cartilha do Naiqmen." E a música passa bem em Por Pouco. Esse é o disco com menos composições próprias do Mundo Livre – há versões de Minha Galera, de Manu Chao, e do rock Shakin’All Over. Apesar do verniz eletrônico última-geração, a banda continua a pautar sua linha de composição pelos trabalhos de dois pilares da MPB: Jorge Ben Jor (principalmente o do disco Tábua de Esmeraldas) e Tom Zé. O primeiro deu à banda a canção Mexe Mexe. O outro dá as caras num engraçadíssimo recado de secretária eletrônica. O rock come solto no disco, mas há faixas em que o samba muito pessoal do Mundo Livre ganha contornos de gafieira, com belos sopros. É o caso do manifesto O Mistério do Samba e da Melô das Musas, regravação em pot-pourri de Musa da Ilha Grande e Uma Mulher com W Maiúsculo, do primeiro disco da banda, Samba Esquema Noise (1994). Por Pouco acaba com uma versão de Garota de Ipanema – não tão radical quanto a que Marina fez certa vez – mas suficiente para mostrar que a banda de Recife é um dos nomes que não podem ser deixados de fora quando se falar de Nova MPB.
(Silvio Essinger)
Faixas
Uma mulher com W maiúsculo (Fred Zero Quatro-Goró-Tony-Otto-Bactéria)
Sample: "Morengueira contra 007" (Miguel Gustavo)
12
Batedores (Resistindo ao arrastão global)
(Marcelo Pianinho, Xef Tony, Bactéria, Goró, Fred Zero Quatro)
(Marcelo Pianinho, Xef Tony, Bactéria, Goró, Fred Zero Quatro)