SHOW

Ná Ozzetti (2001)

2001
Som Livre
Crítica

Cotação:

Por toda sua carreira, Ná Ozzetti esteve (às vezes mais, às vezes menos) associada aos compositores e intérpretes da chamada vanguarda paulista. Isso até, no ano passado, ganhar o prêmio de melhor intérprete no Festival da Música Brasileira (da Rede Globo) e com isso merecer a gravação de um CD, pela Som Livre. O álbum em questão é este Show, um afastamento radical de qualquer estética vanguardista. Privilegiando canções dos anos 30, 40 e 50, com arranjos impecavelmente contidos, Show evidencia um fato que até agora poucos conheciam: Ná é ao mesmo tempo uma das mais emocionadas e técnicas cantoras do país, e a elegância clássica na qual o disco vem embalado afinal coloca sua voz em primeiríssimo plano. Agora ela pretende impressionar pelo rigor e pela precisão - e o resultado é tão ou mais compensador que os discos da Ná "moderninha".

Não é com a escolha do repertório que Ná procura surpreender o ouvinte. Quase todas as canções são bastante conhecidas; mas isso não impede que a cantora acrescente sua marca a elas. Em especial, vale destacar a delicadeza da recriação de Linda Flor e do tom brejeiro imprimido a João Valentão - ou até mesmo a insinuação de suingue em Segredo. No entanto, é inútil pensar que o novo álbum de Ná vá se sobressair por alguma eventual "novidade"; o que impressiona mesmo é a capacidade da cantora de assumir um repertório como este e se "encaixar" a ele de forma mais do que adequada. O sutil acompanhamento (dois violões, um leve trabalho de percussão, eventuais sopros e violoncelos) foi a escolha ideal - arranjos como estes não envelhecem, e nem se curvam ao saudosismo em relação às versões originais. A cantora passeia pela fossa ( Meu Mundo Caiu, Não Me Culpes, As Praias Desertas) com a mesma elegância com a qual repassa sambas ancestrais (Na Batucada da Vida, Adeus Batucada e Último Desejo, esta em registro bem cool). Em todas as faixas, fica a excelência técnica da performance - os momentos de maior brilho vocal são Linda Flor e Adeus Batucada, plenas de modulações perfeitas e demonstrações de raro alcance vocal. Fecha o álbum a faixa-título, defendida pela cantora no festival do ano passado (composta pelo velho chapa Luiz Tatit), que se enquadra perfeitamente no contexto do disco e ganha ares de samba-canção envelhecido. (Marco Antonio Barbosa)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Meu mundo caiu Ouvir
(Maysa)
2 Mensagem Ouvir
(Aldo Cabral, Cícero Nunes)
3 Chuvas de verão Ouvir
(Fernando Lobo)
4 Não me culpes Ouvir
(Dolores Duran)
5 Caminhemos Ouvir
(Herivelto Martins)
6 As praias desertas Ouvir
(Tom Jobim)
7 João Valentão Ouvir
(Dorival Caymmi)
8 Na batucada da vida Ouvir
(Ary Barroso, Luiz Peixoto)
9 Linda flor (Yaya) Ouvir
(L. Peixoto, M. Porto, E. Vogeler)
11 Canção de amor Ouvir
(Elano de Paula, Chocolate)
12 Último desejo Ouvir
(Noel Rosa)
13 Adeus batucada Ouvir
(Synval Silva)
 
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