CONDOM BLACK
Otto / Max de Castro / Nação Zumbi (2001)
Crítica
Cotação:
Otto causou sensação ao atualizar o samba, misturando-o à tradição nordestina e à modernidade eletrônica em seu álbum de estréia Samba Pra Burro. Demorou três anos para que tivéssemos a prova dos nove sobre o talento do pernambucano - tirada com este Condom Black, que, na melhor cartilha manguebeat, segue misturando alhos e bugalhos aparentemente incompatíveis. Mas que, no fim das contas, dão em um sincretismo de dar coceira no cérebro. A princípio, nota-se que em seu segundo álbum propriamente dito Otto refinou sua musicalidade (incluindo composições mais ricas melodicamente), freou o experimentalismo techno (trocado por uma profusão de sintetizadores analógicos) e buscou o candomblé como principal referência estética e musical. Na prática, o CD exibe um som mais encorpado, orgânico - com canções de verdade dando asas para as experimentações de Otto. O melhor é que há um coquetel sonoro interessantíssimo servindo de rede de proteção para esses vôos que misturam macumba, trocadilhos tortos, jazz, lounge music, e, claro, samba. Se em Samba Pra Burro o que valia era a estranheza do primeiro contato, o que vale em Condom Black é a música, reposta em primeiro lugar.
Junto a Apollo 9 e alguns convidados bem especiais (Pupilo, Zé Gonzales, e as vozes de Luciana Mello, Maria Paula, Chorão e Fernanda Lima), Otto tramou um disco de arranjos variados e instigantes, que caem bem em sua surpreendente nova safra de canções. O samba-ponto-de-terreiro-lowtech Anjos do Asfalto, por exemplo, ganha um groove econômico, descarnado. Nada a ver com a ambientação da faixa seguinte, Armadura, cheia de influências lounge. E por aí seguem as surpresas. Como a batida infecciosa e sutil de Cuba, a macumba explícita (e pornográfica) em Condom Black ou verdadeira na jam-session tingida de jazz e funk - com a ajuda da Nação Zumbi - que é Hemodialisis. É bom notar que, para além das boas armações sônicas que perpassam o trabalho, Otto mostra-se sim um bom compositor. Ele soa surpreendentemente "musical" em Dias de Janeiro e na bela melodia de Por Que, e - espanto! - faz pop-rock agradável e quase "normal" em Pelo Engarrafamento. Só falta apurar a garganta. Vide Único Sino, na qual a singeleza da melodia quase sucumbe à anti-técnica vocal de Otto (leia-se: o garotão não canta nada...).(Marco Antonio Barbosa)
Junto a Apollo 9 e alguns convidados bem especiais (Pupilo, Zé Gonzales, e as vozes de Luciana Mello, Maria Paula, Chorão e Fernanda Lima), Otto tramou um disco de arranjos variados e instigantes, que caem bem em sua surpreendente nova safra de canções. O samba-ponto-de-terreiro-lowtech Anjos do Asfalto, por exemplo, ganha um groove econômico, descarnado. Nada a ver com a ambientação da faixa seguinte, Armadura, cheia de influências lounge. E por aí seguem as surpresas. Como a batida infecciosa e sutil de Cuba, a macumba explícita (e pornográfica) em Condom Black ou verdadeira na jam-session tingida de jazz e funk - com a ajuda da Nação Zumbi - que é Hemodialisis. É bom notar que, para além das boas armações sônicas que perpassam o trabalho, Otto mostra-se sim um bom compositor. Ele soa surpreendentemente "musical" em Dias de Janeiro e na bela melodia de Por Que, e - espanto! - faz pop-rock agradável e quase "normal" em Pelo Engarrafamento. Só falta apurar a garganta. Vide Único Sino, na qual a singeleza da melodia quase sucumbe à anti-técnica vocal de Otto (leia-se: o garotão não canta nada...).(Marco Antonio Barbosa)
Faixas