NADA COMO UM DIA APÓS O OUTRO DIA
Racionais MC's (2002)
2002
Zâmbia
ZA-050
Crítica
Cotação:
O esperadíssimo disco novo dos Racionais MCs abre (na vinheta Sou + Você) com cantar de pneus e tiros ao longe misturando-se ao som de um despertador. Madrugada barra-pesada na favela, retratada de forma assustadoramente realista. Esse sentimento de crônica urgente, daquelas que dão um inevitável frio na espinha para os "pleiba" que não conhecem essa realidade de perto, só é encontrável mesmo na música de Mano Brown e sua turma - e permeia os mais de 110 minutos de duração do CD duplo. Apenas essa constatação já justifica a espera (quatro anos) por Nada Como um Dia Após o Outro Dia, e reafirma a importância dos Racionais não apenas para o hip hop, mas para o pop brasileiro como um todo. A lição de realidade dada pelo quarteto é um choque em comparação com as inanidades cantadas por boa parte dos luminares de nossa música jovem. Paradoxalmente, quanto mais afiados se tornam os Racionais em termos de letras, menor fica o jogo de cintura de sua música. A força do conjunto do álbum duplo é inegável (apesar das inevitáveis indulgências devido à extensão do trabalho), mas ela deriva principalmente do discurso. Mestres do "ritmo e poesia", os rappers cuidaram demais da primeira parte da equação e esqueceram um pouco a primeira. Isso se torna ainda evidente ao se comparar Nada Como... a, por exemplo, os últimos trabalhos de Xis e Rappin' Hood, ricos em timbres e influências musicais. Mas que ninguém se engane. Mesmo sem grandes vôos sonoros ou por vezes beirando a repetição, o novo álbum dos Racionais impõe-se como um documento raro, um dos lançamentos mais importantes de 2002.
Interessante é perceber que coube a Edi Rock cantar as faixas mais soturnas, como A Vítima ou Estilo Cachorro - bases graves, minimais, batidas retas. Com uma ou outra variação, é o que se mais ouve no disco. Além das influências de hip hop mesclado com r'n'b, bem em voga nos EUA atualmente (em A Vida É Desafio, De Volta à Cena, ou em 1 Por Amor 2 Por Dinheiro, com um vocal feminino cheio de soul). Bons momentos, mais dançantes, podem ser encontrados na bem-humorada vinheta Fone, que leva por baixo um funk bem anos 70, ou no suingue de Vivão e Vivendo. Ou mesmo em Jesus Chorou, com sua batida em surdina emoldurando uma das melhores letras do disco. Há até não-rap, como em 12 de Outubro, na qual Brown discursa pausadamente, sem ritmo, tendo um violão ao fundo. Não adianta, tudo é secundário diante da crueza mortífera dos versos. Para o futuro, que os Racionais não percam sua poesia cortante e antenada; apenas cuidem de equilibrar um pouquinho mais a trilha sonora.(Marco Antonio Barbosa)
Interessante é perceber que coube a Edi Rock cantar as faixas mais soturnas, como A Vítima ou Estilo Cachorro - bases graves, minimais, batidas retas. Com uma ou outra variação, é o que se mais ouve no disco. Além das influências de hip hop mesclado com r'n'b, bem em voga nos EUA atualmente (em A Vida É Desafio, De Volta à Cena, ou em 1 Por Amor 2 Por Dinheiro, com um vocal feminino cheio de soul). Bons momentos, mais dançantes, podem ser encontrados na bem-humorada vinheta Fone, que leva por baixo um funk bem anos 70, ou no suingue de Vivão e Vivendo. Ou mesmo em Jesus Chorou, com sua batida em surdina emoldurando uma das melhores letras do disco. Há até não-rap, como em 12 de Outubro, na qual Brown discursa pausadamente, sem ritmo, tendo um violão ao fundo. Não adianta, tudo é secundário diante da crueza mortífera dos versos. Para o futuro, que os Racionais não percam sua poesia cortante e antenada; apenas cuidem de equilibrar um pouquinho mais a trilha sonora.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas
DISCO 1
DISCO 2