CHARANGA

Ronaldo Diamante (2000)

2000
Independente
Crítica

Cotação:

Contrabaixista e arranjador veterano, disputado por artistas do calibre de Maria Bethânia, Marisa Monte, Elizeth Cardoso, Joyce e Moraes Moreira, Ronaldo Diamante lança agora seu segundo disco solo, Charanga. Já no primeiro, Jaix (uma brincadeira com a pronúncia abrasileirada da palavra jazz), Diamante mostrou que brilha também como compositor. Em Charanga não é diferente. Com uma turma de músicos de primeiríssima linha, passando pelo ecos do tango, do choro, do jazz, da bossa nova, do samba e até das músicas de circo e das bandas de coreto, o repertório deixa a impressão de que pelo menos um número igual de boas músicas teve que ficar de fora por falta de espaço – e de recursos, é claro, porque a vida de um disco independente instrumental no Brasil não é das mais fáceis. Abrindo com Naive, dedicada a João Donato – de quem pega emprestado o ritmo suingado-bailante –, o disco segue com Tangotim, música composta especialmente para o Quinteto Tim Rescala e que mistura os contratempos marcados típicos do tango à harmonia e ao improviso do jazz, levado por Humberto Araújo (sax), Fabio Adour (violão), Rodolfo cardoso (bateria) e Tim Rescala (piano).

Choro da Claudia é uma das faixas mais divertidas, por tratar-se de um "manifesto" indignado de um baixista que se vê constantemente excluído das rodas de choro por falta de espaço, já que tradicionalmente o violão de sete cordas é o responsável pelas "baixarias". Nessa "vingança de um contrabaixista", como se lê no encarte, o solista é Ronaldo, acompanhado pelo sempre inspirado grupo Água de Moringa e pela pianista Monique Aragão. Fanfarra é mesmo uma "farra" de saxofones, flautas, trompetes e trombones, uma homenagem aos instrumentos de sopro. Já Descanso flui tranqüila, com ares de cool jazz tocado por um tradicional trio de piano (Ana Azevedo), bateria (Arthur Dutra) e baixo. Bastante curiosa e interessante é Impressão sobre Meditação, um tema que remete ao início dos anos 60, com citações ao arranjo de Impressions (1961), de John Coltrane (1926–1967), e à melodia de Meditação (1959), de Tom Jobim (1927–1994), com direito a walkin’ bass, à ótima guitarra de Humberto Mirabelli e à bateria de Arthur Dutra, que aqui não se limita ao acompanhamento.

Procissão é a única composição não assinada por Diamante. Gravada pela primeira vez por Gilberto Gil em um compacto de 1965 e dois anos depois no disco Louvação, a música do baiano já teve regravações tão díspares como Olivia Byington, Wagner Tiso, Sérgio Reis ou Quarteto em Cy. Aqui a versão aparece em trio de sax tenor, baixo e zabumba, e se por um lado não é totalmente inovadora em uma música já tão gravada, por outro não destoa da totalidade do disco. A bossa nova chega muito bem com Tommy, composição dedicada ao pianista e compositor Tomás Improta, que faz uma participação especial, ao lado do sax genial de Idriss Boudrioua e da bateria de Elcio Caffaro. Naima no Catete traz mais uma vez a presença de John Coltrane, de quem o tema Naima é emprestado nesse samba tocado pelo grupo Solari Jazz. Fechando o CD, Charanga é a síntese de tudo, uma mistura livre de todas as influências, do circo ao free jazz. Tudo isso só confirma a fama de instrumentista requisitado conquistada Ronaldo Diamante em mais de 15 anos, e que nos traz esse belo CD. Por ser lançamento independente (com patrocínio do Ponto Frio e apoio do MinC e dos fotolitos Degraus), pode ser que não seja fácil de encontrar nas lojas. O contato para venda é a produtora Nena Rache: (0**21) 826-0440. (Nana Vaz de Castro)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Naive Ouvir
(Ronaldo Diamante)
2 Tangotim Ouvir
(Ronaldo Diamante)
3 Choro da Claudia Ouvir
(Ronaldo Diamante)
4 Fanfarra Ouvir
(Ronaldo Diamante)
5 Descanso Ouvir
(Ronaldo Diamante)
6 Impressão sobre meditação Ouvir
(Ronaldo Diamante)
7 Procissão Ouvir
(Gilberto Gil)
8 Tommy Ouvir
(Ronaldo Diamante)
9 Naima do Catete Ouvir
(Ronaldo Diamante)
10 Charanga Ouvir
(Ronaldo Diamante)
 
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