BATE O MANCÁ (O POVO DOS CANAVIAIS)
Silvério Pessoa / Jacinto Silva (2000)
Crítica
Cotação:
A opção de Silvério Pessoa por um projeto inteiramente dedicado à obra de Jacinto Silva - ao invés de dar maior vazão à criatividade exibida no Cascabulho, no qual utilizava o tradicionalismo como base para um som ao mesmo tempo regional e universal - podia parecer um passo para trás. Entretanto, ao se ouvir O Povo dos Canaviais, primeiro álbum do projeto Bate o Mancá, fica claro que Silvério optou mesmo foi por manter a coerência de sua trajetória individual. Ao reverenciar a obra de Jacinto, referência básica em sua história musical, o ex-Cascabulho "faz as pazes" com seu passado e lasca um verdadeiro compêndio de forró. Sim, pode-se apelar para o rótulo "genérico" de forró para o álbum, pois, guiando-se pelas próprias palavras de Jacinto (sampleado na abertura de Puxe o Fole Zé), "forró é uma seqüência de ritmos nordestinos: xaxado, coco de roda, baião, o xote (...) Esses ritmos todos é que significam o forró". E todas essas gradações se sucedem no álbum. Do arrasta-pé legítimo (Casa de Aranha, Carreiro Novo, Pra Rapaziada), ao coco mais cadenciado (O Cantador, Coco na Paraíba, Gírias do Norte), até o sambinha de roda (Sabiá da Mata) e o xaxado movido a pífanos (Rabo de Saia). Ao emoldurar as canções de Jacinto, Silvério foi reverente - o que dá até um tom divertido aos arranjos, que em geral não escapam da sombra dos originais. As ousadias se restringem a um ou outro riff de guitarra distorcida. A exceção foi a recriação de Amor de Capinheiro, na qual o tom de denúncia social da letra é reforçado pela contundente participação de Zé Brown e Marcelo (do Faces do Subúrbio) e BNegão. Silvério parece ter deixado para caprichar mesmo nos arranjos vocais: o efeito de sua voz duplicada em faixas como Puxe o Fole Zé ou Coco do M ficou "da moléstia". O próprio Jacinto se manifesta na marcha Aquela Rosa, que fecha o álbum - como que dando sua benção ao discípulo. Não resta dúvida que Silvério deu o passo certo em sua carreira com o Bate o Mancá, num disco que emociona e levanta poeira a um só tempo. Que seu intento seja cumprido: preservar a obra de Jacinto Silva e manter Silvério Pessoa na estrada.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas