AS AVENTURAS DOS VIRGULÓIDES
Virgulóides (2000)
Crítica
Cotação:
Com O Bidu no longínquo 1967, Jorge Ben (ainda sem o Jor) provou que – a despeito de adversários no mercado nacional – o samba e o rock não eram incompatíveis. Afinal, todos dois têm raiz negra (rhythm & blues lá e lundu aqui) e um acento rítmico forte. O curioso na fusão proposta pelos Virgulóides (Lobão já tinha casado guitarras com a batucada mangueirense de Ivo Meirelles) é o sotaque paulistano de periferia, contaminado também pelo funk, reggae e rap. Originários de Cidade Dutra, Zona Sul (ao contrário da carioca, a parte pobre) de São Paulo, Henrique Rato (guitarra, violão e vocal), Beto DeMoreaux (baixo) e Paulinho Jiraya (bateria, pandeiro, surdo e cavaco), reforçados pelos ritmistas Marcelo Fumaça, Negrelli e Biroska misturam todas essas linguagens num idioma paulistano de Adoniran Barbosa 2000. Tem até uma ponte com o clássico do genial sambista Saudosa Maloca, em Sou Maloqueiro, E Daí? que fecha o disco num enfezado desempenho de Jiraya mandando um Brasileirinho (de outro mestre, Waldir Azevedo) heavy metal. O grupo que estourou no disco de estréia em 1997 apenas a música Bagulho no Bumba (gíria paulistana para ônibus) e quase desapareceu depois do segundo (o bom Só Pra Quem Tem Dinheiro?) volta turbinado nesse terceiro título. Rola funk-metal e trocadilhagem infame em Pudim de Pinga ("minha vida já é Drury’s/ minha vodka já dizia"), uma revisita com scratches e guitarras a Mato Queimado, hit do Exportasamba, e uma evocação involuntária da pioneira Maria Joana de Erasmo e seu hoje quase santo parceiro Roberto Carlos na sacana Eu Quero Minha Mãe! ("Vamo Maria que essa noite eu preciso de você Maria Juana"). Além disso há (samba) Reggae de bamba, um samba/suíngue típico do seminal Jorge Ben em clima de Calhambeque (Chevette Velho), funk recorrente em Maria Lôca e um samba duro baiano atachado à paulicéia (Cidade Dutra). Mais bagaceira impossível. Mas quem dispensa uma boa pinga destilada em tonéis de sarcasmo?(Tárik de Souza)
Faixas