TAMBONG
Vitor Ramil (2000)
Crítica
Cotação:
Quem já conhece o anterior Ramilonga, obra-prima de Vitor Ramil, vai logo perceber a relação. Se, naquele álbum, o compositor e cantor elegeu a milonga como ponto de partida para confrontar os estereótipos da música tradicional gaúcha, em Tambong ele amplia seu espectro, buscando uma fusão orgânica entre o tango argentino, o candombe uruguaio, a bossa brasileira e, naturalmente, a milonga platina. Para isso, Ramil põe em prática mais uma vez os sete fundamentos de sua estética do frio – teoria que toma o frio como metáfora da música do Sul do país, diferentemente da música "quente" que caracteriza outras regiões brasileiras. Rigor, profundidade, clareza, concisão, pureza, leveza e melancolia podem ser encontrados, em maior ou menor medida, em todas as 14 faixas de Tambong, que se revela como um desenvolvimento mais pop de Ramilonga. A canção Não é Céu soa perfeita para abrir o álbum: "Deixa essa brasa sumir lá fora/ deixa o galo nos acordar/ É cedo, cedo/ Fica comigo, me abraça/ Que calor melhor a rua não dá", convida o cantor. Mas ainda que pareça rejeitar o calor da música de rua, Tambong está muito longe de ser um álbum gélido. Canções como a pungente Valérie ("Quero te ver/ só pra te esquecer") ou a conhecida Estrela, Estrela (primeiro sucesso de Ramil, gravada por Gal Costa) trazem uma carga considerável de melancolia, mas não escondem um cálido romantismo. A temperatura sobe mais ainda com a levada rock’n’roll de Um Dia Você Vai Servir a Alguém (versão de Gotta Serve Somebody, de Bob Dylan), aquecida pelo vocal vibrante de Lenine. Não falta calor também à versão bluesy Só Você Manda em Você (You’re a Big Girl Now, outra de de Dylan). Mas nenhuma faixa do disco parece tão fiel à estética do frio quanto Foi no Mês que Vem ("Foi quando eu chegar/ Foi na hora em que eu te vi/ E mais que tudo/ Foi no mês que vem"), com seu insólito jogo entre passado e futuro, realçado pelo piano crispado de Egberto Gismonti. Uma interpretação que chega a queimar de tão fria, no sentido mais ramilonguiano do termo.(Carlos Calado)
Faixas
6
O velho Leon e Natália em Coyoacán