CINEMA AUDITIVO
Wado (2002)
2002
Outros Discos
ODD008
Crítica
Cotação:
Na encruzilhada múltipla entre o samba, a MPB "tradicional", a tradição da black music brazuca e o pop-rock - mas sem enveredar definitivamente por nenhum desses caminhos em particular - está Wado. Oswaldo Schlickmann, o alagoano que atende pelo nome artístico de Wado, granjeou muita atenção da imprensa mais observadora com seu álbum O Manifesto da Arte Periférica (2001). Os poucos sortudos que ouviram o disco apontaram, com razão, o cantor, compositor e multiinstrumentista como legítimo renovador da nova música brasileira. Na mesma sintonia dos eflúvios do manguebeat (não é questão de comparar, mas sim de buscar identificação - a comparação com a turma recifense até irrita Wado), Wado coleta cacos do passado de nossa música e os relê de maneira estranhamente contemporânea. Há referências identificáveis, claro - Jorge Ben, Gil, Tim Maia - mas nada é óbvio. Pelo contrário; tudo se mescla de forma homogênea e inteligente dentro de um som que, ao mesmo tempo que se nutre de nossa gasta MPB, está antenado a formatos e influências gringas. Dizendo assim, parece não haver diferença entre o que Wado faz e o trabalho de 9 entre 10 "novos talentos". A questão é ouvir e sentir a diferença - não conceitual, derivada de "manifestos", mas no suingue mesmo, no balanço irresistível que Wado consegue extrair de seu equipamento ultra lo-fi (Cinema Auditivo foi gravado em casa, direto no computador). Uma saída extremamente válida para o dilema de se achar uma música pop 100% brasileira, livre de rótulos ou contaminações.
O novo disco é um tanto mais econômico, em termos de arranjos, do que Manifesto.... A verborragia esperta das letras do primeiro álbum também cede espaço a um poeta mais contido, mais preocupado com viagens internas do que com, bem, manifestos. Entretanto, a polirritmia instintiva de Wado e seu dom para unificar influências díspares de forma muito pessoal segue intacta. Funk, samba e soul se unem, sem costuras aparentes, em faixas de suingue irretocável (Sotaque, Tarja Preta/Fafá); leves experimentações eletrônicas dão o tom em A Gaiola do Som; em Diabos evidencia-se o parentesco com o manguebeat; e daí por diante. Por outro lado, há um potencial grande para o lirismo, vindo de fontes inusitadas, como na parceria com o também arretado Totonho (em Cenas de um Filme Inglês) e na quase-doce Ossos de Borboleta.(Marco Antonio Barbosa)
O novo disco é um tanto mais econômico, em termos de arranjos, do que Manifesto.... A verborragia esperta das letras do primeiro álbum também cede espaço a um poeta mais contido, mais preocupado com viagens internas do que com, bem, manifestos. Entretanto, a polirritmia instintiva de Wado e seu dom para unificar influências díspares de forma muito pessoal segue intacta. Funk, samba e soul se unem, sem costuras aparentes, em faixas de suingue irretocável (Sotaque, Tarja Preta/Fafá); leves experimentações eletrônicas dão o tom em A Gaiola do Som; em Diabos evidencia-se o parentesco com o manguebeat; e daí por diante. Por outro lado, há um potencial grande para o lirismo, vindo de fontes inusitadas, como na parceria com o também arretado Totonho (em Cenas de um Filme Inglês) e na quase-doce Ossos de Borboleta.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas