TUTANO

Walter Franco (2001)

2001
YBrazil?Music
Crítica

Cotação:

Maldito, não; que tal então complicado, hermético, ou - para parafrasear uma canção famosa dele mesmo - "cabeça"? Walter Franco, 19 anos depois de lançar seu penúltimo álbum, permanece o mesmo, ainda que recoberto de um providencial manto de modernidade. O cerne da obra do compositor está lá. As letras que brincam de concretismo, os jogos de palavras, as melodias ora belas ora desconcertantes, a voz ainda intacta - e sobretudo a sensação de estranheza, de ouvir algo com a vocação de nadar contra a corrente. Dito isso, a conclusão é que Walter Franco parou no tempo. Sim e não. Se sua musicalidade própria parece girar em círculos criativos em torno do que ele ergueu nos anos 70, para Tutano ela vem recoberta de novos adereços. Arnaldo Antunes (que assina com WF a faixa de abertura, Nasça) é um desses "adereços"; o contato do compositor com vários músicos que, a princípio, não integrariam seu universo (os eletrônicos Anvil FX e Apollo 9) também. Assim, Tutano configura-se como mais do que mais do mesmo: é Walter Franco, o artista raro e pleno de invenção de antes, repaginado para o ano 2001. Às vezes ele soa meio deslocado para estes tempos, mas nunca nega a si mesmo.

O disco é sóbrio, mesmo em seus momentos mais contundentes. Seja ao aproximar-se do rock (como em Ai, Essa Mulher), ou nos arranjos cheios de detalhes de músicas como Acerto com a Natureza ou Quem Puxa aos Seus não Degenera, o tom é menor, intimista. Na outra ponta, em passagens mais desconstruídas (Intradução, só com voz e violão, ou a adequadamente leve Zen, que concorreu no Festival da Música Brasileira no ano passado), sobressai-se o cantor de timbre agradável e o compositor sempre surpreendente. Pode-se achar que há pouca novidade no álbum, até mesmo pela presença de dois cavalos de batalha de Franco regravados, Cabeça e Muito Tudo (esta em versão unplugged, reforçando a ambientação sutil do conjunto). Mas mesmo nos momentos explicitamente "walterfranquianos" respira-se jovialidade. Gema do Novo, com sua letra naïve - reprise concretista - sobrevive graças a um arranjo vigoroso, rico. O patamar sem ineditismo no qual Franco se encontra agora não é estagnação. É mais maturidade, vontade de fazer (só) o que sabe fazer (bem). Deu certo.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas
Ouvir todas em sequência
2 Quem puxa aos seus não degenera Ouvir
(Walter Franco)
3 Tutano Ouvir
(Walter Franco)
4 Na ponta da língua Ouvir
(Walter Franco)
7 Ai, essa mulher Ouvir
(Walter Franco)
8 Intradução Ouvir
(Walter Franco)
9 Senha do motim Ouvir
(Walter Franco)
10 Cabeça Ouvir
(Walter Franco)
11 Gema do novo Ouvir
(Walter Franco, Cristina Villaboim)
12 Acerto com a natureza Ouvir
(Walter Franco, Cristina Villaboim)
13 Distâncias Ouvir
(Walter Franco)
14 Muito tudo Ouvir
(Walter Franco)
 
TUTANO