MEMORIAL
Zé Renato / Wagner Tiso (2002)
2002
Biscoito Fino
BF-519
Crítica
Cotação:
Trabalho de fina e emocionante tapeçaria sonora, Memorial registra a união de dois artistas em momento de inspiração rara. Wagner Tiso encontrou na voz suave de Zé Renato o complemento perfeito para mostrar sua versatilidade de arranjador. Tanto melhor que boa parte das canções do álbum seja pouco conhecida; dá mais asas à imaginação do ouvinte, ao se deparar com pérolas ancestrais (algumas do fim do século XIX/início do XX) recriadas de modo suave e evocativo. Ponto chave do disco, o trabalho de Wagner foi criar ambiências sempre delicadas, cada qual se encaixando às necessidades das canções. Ao mesmo tempo, houve a preocupação de fazer com que Memorial soasse absolutamente contemporâneo, sem empolações ou empostações falsas. O resultado é que, apesar da idade provecta da grande maioria das faixas, o álbum tem vigor e atualidade, coerente tanto com a carreira pessoal de Wagner e Zé quanto com o momento atual da MPB "de situação". No frigir dos ovos, a homenagem a Juscelino Kubitschek acaba quase caindo para segundo plano; o que emerge mesmo é um feliz encontro sonoro que deveria se repetir outras vezes.
Muito à vontade ao cantar esse repertório - afinal, vem se dedicando a recriar canções antigas há bastante tempo - Zé Renato brilha, cheio de versatilidade. Nas serestas (que dominavam o gosto musical de JK), como Neuza ou É Ti a Flor do Céu, o doce estilo de interpretação do ex-Boca Livre se funde com a cama de cordas orquestrada por Wagner, numa fusão quase sem emendas. Ainda nas serestas, Tiso baixa a bola da instrumentação para deixar um som mais esparso ditar o passo de Noite Cheia de Estrelas - e prova que, tanto na riqueza de detalhes quanto na economia acústica, acerta a mão da mesma maneira. Se o assunto é samba, vale notar as singelas recriações de O Grande Amor e Lamento no Morro, contraponto ao arranjo mais encorpado de Quando Tu Passas Por Mim. E a grande celebração em que se transformou Pois É, com seu coro cheio de convidados especiais. Mirando certeira na emoção, a inevitável Peixe Vivo ganha uma versão suntuosamente bela, na qual ouvem-se as cordas de Wagner embalando JK pela eternidade. (Marco Antonio Barbosa)
Muito à vontade ao cantar esse repertório - afinal, vem se dedicando a recriar canções antigas há bastante tempo - Zé Renato brilha, cheio de versatilidade. Nas serestas (que dominavam o gosto musical de JK), como Neuza ou É Ti a Flor do Céu, o doce estilo de interpretação do ex-Boca Livre se funde com a cama de cordas orquestrada por Wagner, numa fusão quase sem emendas. Ainda nas serestas, Tiso baixa a bola da instrumentação para deixar um som mais esparso ditar o passo de Noite Cheia de Estrelas - e prova que, tanto na riqueza de detalhes quanto na economia acústica, acerta a mão da mesma maneira. Se o assunto é samba, vale notar as singelas recriações de O Grande Amor e Lamento no Morro, contraponto ao arranjo mais encorpado de Quando Tu Passas Por Mim. E a grande celebração em que se transformou Pois É, com seu coro cheio de convidados especiais. Mirando certeira na emoção, a inevitável Peixe Vivo ganha uma versão suntuosamente bela, na qual ouvem-se as cordas de Wagner embalando JK pela eternidade. (Marco Antonio Barbosa)
Faixas
Lamento no morro (Tom Jobim, Vinícius de Moraes)