PET SHOP, MUNDO CÃO
Zeca Baleiro (2002)
2002
Abril Music/MZA Music
2407004-2
Crítica
Cotação:
Quem olha Zeca Baleiro de relance pode pensar que, em tudo, o rapaz é puro samba do crioulo doido. Nada; há uma ordem interna muito clara nas múltiplas referências sonoras e poéticas que ele embaralha, na melhor tradição do "eu vim para confundir". Neste seu último trabalho ele reafirma esta assinatura muito pessoal, agora temperada com uma inaudita dose de agressividade nas letras e de eletrônica na música. Pet Shop Mundo Cão coloca uma dose de amargura no humor típico das letras de Baleiro, ao mesmo tempo em que busca, no som, uma síntese clean e moderninha - cruzando samplers e violões, influências rítmicas disparatadas e ambiências eletrônicas. A associação com nomes que caminham nesta fronteira (Totonho, Karnak, Jr.Tostoi, Sacha Amback) guia a nova disposição de Baleiro, que no fundo não mudou. Continua sendo o melodista eventualmente arguto, capaz de um ou outro achado mais inspirado, e o letrista que esconde seu lirismo por trás de uma igualmente interessante irreverência. Por mais gente que tenha metido o dedo no álbum - são três co-produtores e uma montanha de participações especiais - o maranhense ainda é dono de sua própria obra.
Desconte as estrepolias sônicas e observe, em músicas como Um Filho e Um Cachorro ou a pop Fiz Esta Canção, que Baleiro não depende de fusões loucas ou computadores para criar belos e cativantes achados. Muita gente há de preferir, entretanto, o Zeca "inventor", "experimental", uma personalidade na qual o compositor funciona em diferentes graus de eficiência. Pureza rítmica e modernidade instrumental se chocam em Minha Tribo Sou Eu, quase um samba-enredo eletronizado, ou em Filho da Véia, candomblé injetado de samplers. Dá certo, mas o resultado é melhor em As Meninas dos Jardins - um trip hop que, pós-moderno, cita a ancestral Rua Augusta (sob uma base eletrônica enriquecida por cordas). As guitarras de rock em O Hacker e o reggae bastardo de Eu Despedi o Meu Patrão e Guru da Galera soam mais como curiosidade esdrúxula - assim como Drumenbeis, uma embolada-jungle que debocha de seu próprio exotismo. Nas letras, Baleiro dá o pulo do gato sobre os artistas que "competem" em sua categoria (Lenine, digamos, ou Moska). Na miríade de jogos verbais de sua poesia, encontram-se desde infâmias "românticas" (em Mundo dos Negócios) a trocadilhos "antenados" (O Hacker). A atitude desencanada de Baleiro em relação a suas letras, entretanto, o salva do papo-cabeça vazio. (Marco Antonio Barbosa)
Desconte as estrepolias sônicas e observe, em músicas como Um Filho e Um Cachorro ou a pop Fiz Esta Canção, que Baleiro não depende de fusões loucas ou computadores para criar belos e cativantes achados. Muita gente há de preferir, entretanto, o Zeca "inventor", "experimental", uma personalidade na qual o compositor funciona em diferentes graus de eficiência. Pureza rítmica e modernidade instrumental se chocam em Minha Tribo Sou Eu, quase um samba-enredo eletronizado, ou em Filho da Véia, candomblé injetado de samplers. Dá certo, mas o resultado é melhor em As Meninas dos Jardins - um trip hop que, pós-moderno, cita a ancestral Rua Augusta (sob uma base eletrônica enriquecida por cordas). As guitarras de rock em O Hacker e o reggae bastardo de Eu Despedi o Meu Patrão e Guru da Galera soam mais como curiosidade esdrúxula - assim como Drumenbeis, uma embolada-jungle que debocha de seu próprio exotismo. Nas letras, Baleiro dá o pulo do gato sobre os artistas que "competem" em sua categoria (Lenine, digamos, ou Moska). Na miríade de jogos verbais de sua poesia, encontram-se desde infâmias "românticas" (em Mundo dos Negócios) a trocadilhos "antenados" (O Hacker). A atitude desencanada de Baleiro em relação a suas letras, entretanto, o salva do papo-cabeça vazio. (Marco Antonio Barbosa)
Faixas