SORTIMENTO

Zélia Duncan (2001)

2001
Crítica

Cotação:

Com Sortimento, Zélia Duncan se insere no time dos poucas cantoras da MPB reveladas nos últimos anos que parecem ter algo a dizer. Ao invés de joguinhos de palavras vulgares e letras pretensamente intelectualizadas, ela selecionou um repertório de letras que traduzem perfeitamente as dificuldades de alguém habitar uma grande metrópole no começo do século XXI. Não bastasse isso, Zélia diversificou seu som. Graças a Deus. Seu álbum anterior, Acesso, possuía ao menos quatro grandes faixas (Sexo, Imorais, Código de Acesso e Quase Sem Querer), mas as demais deitavam no berço esplêndido do country/folk/pop. Muito pouco para uma intérprete interessante como Zélia, que vive num país onde há tantas referências rítmicas. Não que no novo CD ela explore uma gama incessante de ritmos, mas pelo menos ela ousa um bocado e busca novos parceiros. Há variações do pop/romântico que a cantora está acostumada a fazer, com levadas mais funkiadas e algo de rap e pop eletrônico. A maior surpresa fica por conta da inclusão de um samba clássico (Na Hora da Sede), com participação do Trio Mocotó.

A abertura, com mais uma pérola bem sacada por ela de Itamar Assumpção - Por Que que Eu Não Pensei Nisso Antes?, canção sobre a arte de seduzir com mil referências ao nosso imaginário urbano caótico - já é um bom sinal. Entre as canções atraentes com temática urbana (com letras igualmente interessantes, munidas de imagens bem atuais), destaca-se Desconforto (de Zélia e Rita Lee). "O desconforto anda solto no mundo/ E você sempre atento ao que menos importa", canta ela nesta música, que ainda conta com a inserção de um rap de Johnny MC e Rappin Hood. Outra boa é Todos os Dias (de John, guitarrista do Pato Fu). "Todos os dias/ A cidade em que vivo/ Quer brigar comigo/ Mal sabe ela que é por ela que todo dia brigo", diz a letra, com melodia de funk real (não o funk atual, mas o original - temos que inventar um nome para designá-lo a exemplo de forró pé-de-serra e de samba de raiz). Nesta faixa, a própria Zélia insere momentos de rap.

No gênero mais romântico, a cantora acerta - de fato! - em Eu Me Acerto, canção de dor-de-cotovelo com direito a bom arranjo de sopros; na balada folk Me Revelar (da cantora, com seu velho parceiro, Christiaan Oyens) e no pop/romântico Beleza Fácil (com Rodrigo Maranhão) - todas lembram a sonoridade de seus discos anteriores, têm forte apelo radiofônico e, de quebra, letras boas, especialmente essa última: "O Mundo gosta da beleza fácil/ Do que é superprático (...) Do que se vê logo de cara/ E nunca se enxerga". Como faixas bônus, aparecem as recentes participações de Zélia em mais canções românticas, nos discos de Herbert Vianna (Partir, Andar) e Capital Inicial (Eu Vou Estar). Dispensáveis. O conceito do disco acaba na faixa 12 e já seria o suficiente para provar que a cantora está no caminho certo. Que ouse cada vez mais.(Rodrigo Faour)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Por que que eu não pensei nisso antes? Ouvir
(Itamar Assumpção)
3 Chicken de frango Ouvir
(Rodrigo Maranhão, Zélia Duncan)
4 Eu me acerto Ouvir
(Zélia Duncan)
5 Sortimento Ouvir
(Nando Reis)
6 Desconforto Ouvir
(Rita Lee, Zélia Duncan)
7 Beleza fácil Ouvir
(Rodrigo Maranhão, Zélia Duncan)
9 Todos os dias Ouvir
(John)
11 Na hora da sede Ouvir
(Luiz Américo, Braguinha)
12 Hóspede do tempo Ouvir
(Fred Martins, Zélia Duncan)
13 Partir, andar - com Herbert Vianna (Faixa bônus) Ouvir
(Herbert Vianna)
14 Eu vou estar - com Capital Inicial (Faixa bônus) Ouvir
(Alvin L., Dinho Ouro Preto)
 
SORTIMENTO