Maxixe
Originado de procedimentos empregados pelos músicos de grupos de choro e bandas de coretos do Rio de Janeiro desde a década de 1860, o futuro gênero de música popular chamado de maxixe ia surgir a partir de 1880 acompanhando a maneira exageradamente requebrada de dançar tal tipo de execução, principalmente de polca-tango. Isso poderia ser comprovado quando, a 17 de abril de 1883, na cena cômica intitulada Aí, Caradura!, o ator Vasques mostrava um carioca, em cuja casa se realizava um baile, a incitar seu convidado caradura (hoje cara de pau) a demonstrar suas habilidades de dançarino dizendo: "Vamos, seu Manduca, não me seja mole: eu quero ver isso de maxixe!" O que realmente acontecia obedecendo a seguinte rubrica do texto: "A orquestra executa uma polca-tango, e ele depois de dançar algum tempo, grita entusiasmado: – Aí caradura!". Ao que acrescentava a indicação: "(Canta: No maxixe requebrado/ Nada perde o maganão!/ Ou aperta a pobre moça/ Ou lhe arruma um beliscão!)".
Foi, pois, o estilo de tal forma malandra e exagerada de dançar o ritmo quebrado da polca-tango que acabaria por fazer surgir o maxixe como gênero musical autônomo, ao estruturar-se pelos fins do século XIX sua forma básica: a exageração dos baixos – inclusive pelos instrumentos de tessitura grave das bandas – conforme o acompanhamento normalmente já cheio de descaídas dos músicos de choro. Ou, como explicava no artigo Variações sobre o Maxixe o maestro Guerra-Peixe, "melodia contrapontada pela baixaria, passagens melódicas à guisa de contraponto ou variações e, em alguns casos, baixaria tomando importância capital".
Sucesso brasileiro na Europa
Definido como gênero autônomo, o maxixe, contaminado pelo preconceito em relação ao baixo nível social em que surgira – os forrobodós ou bailes populares também chamados de maxixes –, continuaria a ser cultivado musicalmente até inícios do século XX, muitas vezes encoberto pelos nomes de tango ou tanguinho (caso dos tangos pianísticos de Ernesto Nazareth). E, enquanto dança, progressivamente submetido à estilização dos seus passos – como logo faria o bailarino Antonio Lopes Amorim Diniz, o Duque – a fim de permitir sua aceitação nas salas e salões das classes média e alta. Transformada em número obrigatório do teatro de revistas (desde o quadro Um Maxixe da Cidade Nova, da peça O Bilontra, de Artur Azevedo, de 1866), a dança do maxixe seria levada para a Europa no início dos 1900 para tornar-se – sob o nome de tango brasileiro – uma onda da moda, favorecida por sua atração de coisa exótica. E isso a ponto de estimular compositores locais a tentar o gênero, como aconteceria com o francês Charles Borel Clerk com sua criação intitulada La Matchichinette, consagradora da novidade: "C’est la chanson nouvelle/ Mademoiselle/ C’est la chanson que esguiche/ C’est le matchiche".
A maior prova da repercussão alcançada pelo maxixe na Europa, porém, seria fornecida pela literatura. Em suas Memórias escritas na década de 1960, o escritor soviético Ilia Ehrenburg, ao recordar no capítulo Infância e Juventude, no primeiro volume, da agitada vida russa de 1905, lembrava que, já então, "em lugar da mignone e da chacona da minha infância, as moças estudavam, diante das assustadas mamães, o cake-walk e o maxixe". Em outro livro de memórias – este do escritor Paul Léautaud, no Journal Littéraire – o ensaista e cronista recordava uma recepção na casa de Mme. Dehaynin, num domingo de novembro de 1905, em que, após o jantar, "a senhorita Marcelle Dehaynin, acompanhada ao piano por sua mãe, dançou para nós o cake-walk, o matchice etc. E ainda antes da Primeira Grande Guerra, enquanto Georges Courteline dedicava uma de suas pequenas cenas cômicas ao diálogo de suas parisienses a discutir futilidades como infidelidade dos maridos, festas e o maxixe, o poeta Jean Richepin – segundo revelava o cronista Alvaro Moreyra em 1914 – provocava a Academia Francesa com uma conferência sobre o tango e o maxixe. Tema que, aliás, aproveitaria logo a seguir numa peça teatral escrita em parceria com a mulher, Mme. Richepin.
Desaparecimento gradual
No Brasil, o maxixe, sob esse nome ou disfarçado às vezes por outras denominações (como a de samba, tal como se comprova ouvindo a execução de Pelo Telefone pela Banda Odeon em 1917), prolongou sua trajetória até às vésperas da década de 1930, com a
lguns piques de sucesso, já agora revestido de letra, como aconteceria com a composição de Sebastião Cirino Cristo Nasceu na Bahia, de 1926. A partir de então, o maxixe estava destinado a reaparecer apenas eventualmente, como aconteceria em 1968, como reaproveitamento do seu ritmo na segunda parte da composição Bom Tempo, de Chico Buarque de Holanda, que ia fazer o público da I Bienal do Samba da TV Record, de São Paulo, entoar sem saber o canto de cisne do gênero pensando tratar-se de novidade em matéria de samba: "No compasso/ Do samba eu disfarço/ O cansaço/ Joana debaixo do braço/ Carregadinho de amor/ Vou que vou...".
Músicas
Cristo Nasceu na Bahia (Sebastião Cirino) – Banda do Corpo de Bombeiros
O Maxixe (Aurélio Cavalcanti) – Carolina Cardoso de Menezes
Dorinha, Meu Amor (José Francisco de Freitas) – Mário Reis
Rio Antigo (Altamiro Carrilho/ Augusto Mesquita) – Altamiro Carrilho
E Você Não Dizia Nada (Hélio Sindô/ J. Sacomani) – Gilberto Alves
Bom Tempo (Chico Buarque) – Chico Buarque
Serei Teu Ioiô (Paulo da Portela/ Monarco) – João Nogueira
Foi, pois, o estilo de tal forma malandra e exagerada de dançar o ritmo quebrado da polca-tango que acabaria por fazer surgir o maxixe como gênero musical autônomo, ao estruturar-se pelos fins do século XIX sua forma básica: a exageração dos baixos – inclusive pelos instrumentos de tessitura grave das bandas – conforme o acompanhamento normalmente já cheio de descaídas dos músicos de choro. Ou, como explicava no artigo Variações sobre o Maxixe o maestro Guerra-Peixe, "melodia contrapontada pela baixaria, passagens melódicas à guisa de contraponto ou variações e, em alguns casos, baixaria tomando importância capital".
Sucesso brasileiro na Europa
Definido como gênero autônomo, o maxixe, contaminado pelo preconceito em relação ao baixo nível social em que surgira – os forrobodós ou bailes populares também chamados de maxixes –, continuaria a ser cultivado musicalmente até inícios do século XX, muitas vezes encoberto pelos nomes de tango ou tanguinho (caso dos tangos pianísticos de Ernesto Nazareth). E, enquanto dança, progressivamente submetido à estilização dos seus passos – como logo faria o bailarino Antonio Lopes Amorim Diniz, o Duque – a fim de permitir sua aceitação nas salas e salões das classes média e alta. Transformada em número obrigatório do teatro de revistas (desde o quadro Um Maxixe da Cidade Nova, da peça O Bilontra, de Artur Azevedo, de 1866), a dança do maxixe seria levada para a Europa no início dos 1900 para tornar-se – sob o nome de tango brasileiro – uma onda da moda, favorecida por sua atração de coisa exótica. E isso a ponto de estimular compositores locais a tentar o gênero, como aconteceria com o francês Charles Borel Clerk com sua criação intitulada La Matchichinette, consagradora da novidade: "C’est la chanson nouvelle/ Mademoiselle/ C’est la chanson que esguiche/ C’est le matchiche".
A maior prova da repercussão alcançada pelo maxixe na Europa, porém, seria fornecida pela literatura. Em suas Memórias escritas na década de 1960, o escritor soviético Ilia Ehrenburg, ao recordar no capítulo Infância e Juventude, no primeiro volume, da agitada vida russa de 1905, lembrava que, já então, "em lugar da mignone e da chacona da minha infância, as moças estudavam, diante das assustadas mamães, o cake-walk e o maxixe". Em outro livro de memórias – este do escritor Paul Léautaud, no Journal Littéraire – o ensaista e cronista recordava uma recepção na casa de Mme. Dehaynin, num domingo de novembro de 1905, em que, após o jantar, "a senhorita Marcelle Dehaynin, acompanhada ao piano por sua mãe, dançou para nós o cake-walk, o matchice etc. E ainda antes da Primeira Grande Guerra, enquanto Georges Courteline dedicava uma de suas pequenas cenas cômicas ao diálogo de suas parisienses a discutir futilidades como infidelidade dos maridos, festas e o maxixe, o poeta Jean Richepin – segundo revelava o cronista Alvaro Moreyra em 1914 – provocava a Academia Francesa com uma conferência sobre o tango e o maxixe. Tema que, aliás, aproveitaria logo a seguir numa peça teatral escrita em parceria com a mulher, Mme. Richepin.
Desaparecimento gradual
No Brasil, o maxixe, sob esse nome ou disfarçado às vezes por outras denominações (como a de samba, tal como se comprova ouvindo a execução de Pelo Telefone pela Banda Odeon em 1917), prolongou sua trajetória até às vésperas da década de 1930, com a

Músicas
Cristo Nasceu na Bahia (Sebastião Cirino) – Banda do Corpo de Bombeiros
O Maxixe (Aurélio Cavalcanti) – Carolina Cardoso de Menezes
Dorinha, Meu Amor (José Francisco de Freitas) – Mário Reis
Rio Antigo (Altamiro Carrilho/ Augusto Mesquita) – Altamiro Carrilho
E Você Não Dizia Nada (Hélio Sindô/ J. Sacomani) – Gilberto Alves
Bom Tempo (Chico Buarque) – Chico Buarque
Serei Teu Ioiô (Paulo da Portela/ Monarco) – João Nogueira