A LOVE AFFAIR - THE MUSIC OF IVAN LINS

Incensado no circuito americano dos músicos & platéia que degustam caprichados desenhos harmônicos e melodias ganchudas, o carioca Ivan Lins ganhou este disco tributo produzido pelo tecladista Jason Miles, com estrelas do porte de Sting, Chaka Kahn, Vanessa Williams, Dianne Reeves, Freddy Cole e o recém-falecido saxofonista Groover Washington Jr. Não é pouca coisa, ainda mais somada ao show do Carnegie Hall desta quarta-feira (leia nota). Miles, que trabalhou com o xará Davis – outro fã de Lins, como o maestro Quincy Jones –, não mediu esforços para montar essa homenagem como conta na contracapa da edição original americana. Tudo começou exatamente numa audição de um disco de Ivan promovida por Miles Davis em sua casa na noite de 21 de junho de 1991. Jason logo identificou o som do brasileiro. Com a habitual rudeza, Davis mandou seu elogio: "ele é um bom f-d-p, vou fazer um disco inteiro com suas canções". O trompetista morreria três meses depois sem realizar o projeto que Jason produziu e arranjou, certamente levando a idéia por um caminho mais pop, que explica o edulcorado sax de Groover Washington (em Camaleão) ou a pouco expressiva Vanessa Williams num dos maiores hits do compositor nos EUA, Love Dance. Os adeptos brasileiros de Ivan dificilmente reconhecerão sua caligrafia no disco – exceto, claro, na última faixa, onde ele canta uma versão mais latinizada de Somos Todos Iguais Nessa Noite. O arranjo e a ambientação sonora de Soberana Rosa (She Walks This Earth) reverenciam de tal forma o intérprete Sting que a música fica parecendo ser dele. O que pode não ser um defeito, em termos de parada de sucessos. Além do bom suporte instrumental de feras como Michael Brecker, Jay Beckenstein, Vinnie Colaiuta, Marcus Miller, os melhores momentos ficam por conta de Chaka Khan em Cru Cré Corroró (So Crazy For This Love), Freddy (evocando na voz rouca o irmão Nat King) Cole em Anjo de Mim (I’m Not Alone) e o dueto de cavaquinho (Romero Lubambo) e guitarra (Peter White) da instrumental Leva e Traz, que lá recebeu o título de Elis. Valeu, mas Ivan merecia algo mais.(Tárik de Souza)