A MÚSICA BRASILEIRA DESTE SÉCULO POR SEUS AUTORES E INTÉRPRETES - CARTOLA
Cartola (2000)
Crítica
Cotação:
Na primorosa coleção lançada pelo Sesc-SP contando a história da música brasileira não poderia faltar Agenor de Oliveira (ou melhor, Angenor, pois o funcionário do cartório se enganou), o Cartola, ícone do samba de morro e personalidade histórica da Mangueira. Em uma descontraída entrevista, Cartola e a inseparável Dona Zica contam histórias sobre a Mangueira, o bloco dos Arengueiros (embrião da escola de samba), o bar Zicartola, que funcionou nos anos 60 e, segundo Cartola, foi onde Paulinho da Viola ganhou seu primeiro cachê. Entre uma história e outra, muito samba.
Samba de primeira, como Quem Me Vê Sorrindo, parceria com Carlos Cachaça, que Cartola teve "a honra de gravar com a grande orquestra sinfônica de Leopold Stokowski" por ocasião do disco Native Brazilian Music. Produzido pelo maestro norte-americano a bordo do navio Uruguai, o LP envolveu figuras como Villa-Lobos, Donga, João da Baiana e Pixinguinha, que levou Cartola. Outra boa história acompanhada de boa música é a de Não Posso Viver sem Ela (também conhecida como Tive que Contar a Minha Vida), de Bide e Cartola, e que teve sua primeira gravação no lado B do disco que lançou Ai que Saudade da Amélia, grande sucesso de Ataulfo Alves e Mário Lago no início dos anos 40. "Com esse samba ganhei dinheiro sem aparecer na praça; vendia a Amélia, eu também ganhava", conta.
No disco, de 14 faixas, o sambista canta ainda Divina Dama, vendida a Chico Alves por 300 mil-réis, Nós Dois, feita em homenagem a Zica na semana do casamento ("está chegando o momento/ de irmos pro altar/ nós dois"), Fita Meus Olhos, o "samba um pouco mais complicado" Sim, além de alguns menos gravados como Ao Amanhecer e Bem Feito, e grandes sucessos como O Sol Nascerá, de Cartola e Elton Medeiros, que na época em que a entrevista foi gravada já contava com mais de 20 gravações.
O programa MPB Especial que deu origem ao disco foi gravado em 23 de março de 1973, antes portanto do lançamento do primeiro disco individual de Cartola, aquele da Marcus Pereira que tem Acontece, Sim, Disfarça e Chora e outros, de 1974. Portanto, naquela época Cartola já era um compositor de renome, mas suas músicas não tinham o estigma de clássicos tanto quanto têm hoje. Só isso explica como um conjunto regional experiente como o que acompanha o compositor nesta gravação (Evandro no bandolim, Lucio no cavaquinho, Plínio e Pinheiro nos violões, Gerson na flauta e Zequinha no pandeiro), mostra-se "perdido" em algumas músicas provavelmente não ensaiadas. Notadamente em Ao Amanhecer e principalmente em Tive Sim, os músicos parecem estar sempre "correndo atrás" do cantor. Mas Cartola dá um sentido todo especial a seus próprios sambas, em especial quando se acompanha ao violão. Em suma, não se pode perder mais esta oportunidade de ouvir Cartola cantando e contando histórias. (Nana Vaz de Castro)
Samba de primeira, como Quem Me Vê Sorrindo, parceria com Carlos Cachaça, que Cartola teve "a honra de gravar com a grande orquestra sinfônica de Leopold Stokowski" por ocasião do disco Native Brazilian Music. Produzido pelo maestro norte-americano a bordo do navio Uruguai, o LP envolveu figuras como Villa-Lobos, Donga, João da Baiana e Pixinguinha, que levou Cartola. Outra boa história acompanhada de boa música é a de Não Posso Viver sem Ela (também conhecida como Tive que Contar a Minha Vida), de Bide e Cartola, e que teve sua primeira gravação no lado B do disco que lançou Ai que Saudade da Amélia, grande sucesso de Ataulfo Alves e Mário Lago no início dos anos 40. "Com esse samba ganhei dinheiro sem aparecer na praça; vendia a Amélia, eu também ganhava", conta.
No disco, de 14 faixas, o sambista canta ainda Divina Dama, vendida a Chico Alves por 300 mil-réis, Nós Dois, feita em homenagem a Zica na semana do casamento ("está chegando o momento/ de irmos pro altar/ nós dois"), Fita Meus Olhos, o "samba um pouco mais complicado" Sim, além de alguns menos gravados como Ao Amanhecer e Bem Feito, e grandes sucessos como O Sol Nascerá, de Cartola e Elton Medeiros, que na época em que a entrevista foi gravada já contava com mais de 20 gravações.
O programa MPB Especial que deu origem ao disco foi gravado em 23 de março de 1973, antes portanto do lançamento do primeiro disco individual de Cartola, aquele da Marcus Pereira que tem Acontece, Sim, Disfarça e Chora e outros, de 1974. Portanto, naquela época Cartola já era um compositor de renome, mas suas músicas não tinham o estigma de clássicos tanto quanto têm hoje. Só isso explica como um conjunto regional experiente como o que acompanha o compositor nesta gravação (Evandro no bandolim, Lucio no cavaquinho, Plínio e Pinheiro nos violões, Gerson na flauta e Zequinha no pandeiro), mostra-se "perdido" em algumas músicas provavelmente não ensaiadas. Notadamente em Ao Amanhecer e principalmente em Tive Sim, os músicos parecem estar sempre "correndo atrás" do cantor. Mas Cartola dá um sentido todo especial a seus próprios sambas, em especial quando se acompanha ao violão. Em suma, não se pode perder mais esta oportunidade de ouvir Cartola cantando e contando histórias. (Nana Vaz de Castro)
Faixas