A MÚSICA BRASILEIRA DESTE SÉCULO POR SEUS AUTORES E INTÉRPRETES - HERVÊ CORDOVIL
Hervé Cordovil (2000)
Crítica
Cotação:
Hervê Cordovil é desses monstros sagrados esquecidos da MPB. Diversas de suas músicas são inesquecíveis. Daquelas que se escuta uma vez e nunca mais se esquece. Nesse programa Ensaio, da TV Cultura (SP), que agora virou CD, o próprio Hervê canta e conta aspectos curiosos de sua bela carreira e dos ícones da MPB que cruzaram seu caminho, como Carlos Galhardo (que estreou cantando uma canção sua, Carolina), Carmen Miranda ("Foi a primeira cantora a aparecer com um jeito diferente"), Francisco Alves (de quem foi pianista e com quem, a certa altura, brigou), Aracy de Almeida, Silvio Caldas, Isaura Garcia, Lamartine Babo (de quem Hervê foi parceiro e a quem considerava "superinteligente, lírico, humorista, de uma musicalidade impressionante"), Noel Rosa e a Rainha do Baião, Carmélia Alves - a quem ele se diz agradecido por ter lançado e cantado, no correr de sua carreira, tantas de suas músicas. Quais? Me Leva, Sabiá Lá na Gaiola, Pé de Manacá, Esta Noite Serenou, Baião da Garoa (recentemente regravada por Gil & Milton), Cabeça Inchada (que já foi gravada até em chinês e turco) e tantas outras. O compositor relembra ainda outras de suas canções, como a graciosa Inconstitucionalissimamente, lançada por La Miranda e o delicioso samba-canção Uma Loira, lançado por Dick Farney. "Essa música quase deu galho. Imagina um cara casado como eu fazer uma música, dizendo: 'Todos nós temos na vida, um caso, uma loira, pois eu tive também'", diverte-se Hervê. Ele conta ainda como foi parar na Banda do Colégio Militar, do Rio, onde começou a tocar dobrados e depois jazz, como foi a evolução de seu sucesso e fala sobre o processo que recebeu por ter supostamente plagiado um fox americano. Na verdade, sua composição Samba havia sido feita três anos antes do tal fox. Mesmo assim, desfeito o malentendido, apenas enviou uma carta explicando por que não processaria o compositor americano: "Aqui no Brasil fazemos dez canções dessas por dia. Pode ficar com a sua música!". Hervê também explica que a polícia (censura) de sua época freava muito sua criatividade e, numa de suas músicas, ao invés de "o gostoso da Zizica", tinha que escrever "o querido da Zizica". E pensar que hoje o funk/rap carioca pode falar de descer o popozão e martelar o martelão... Outros tempos... Hervê tem um repertório de prosas e canções tão vasto que nem deu tempo de ele cantar seu antológico rock Rua Augusta, que celebrizou seu filho Ronnie Cord. Mas não fez falta.(Rodrigo Faour)
Faixas