A MÚSICA BRASILEIRA DESTE SÉCULO POR SEUS AUTORES E INTÉRPRETES - JACKSON DO PANDEIRO

Mesmo que a pessoa não entenda nada de música, ao se deparar com as interpretações de Jackson do Pandeiro (1919-1982) vai sentir que elas têm alguma coisa de diferente. Pois é exatamente o seu ritmo, a maneira com que solta as palavras cadenciadas dentro dos compassos de seus forrós e sambas. Elas parecem que saltitam. No jargão musical, podemos dizer que Jackson divide como ninguém as melodias. No volume dedicado a ele na coleção A Música Brasileira Deste Século por Seus Autores e Intérpretes vamos nos deparar com um sujeito muito humilde que conseguiu levar ao sucesso nacional o ritmo da Paraíba, sua terra natal, onde até fome passou quando menino, chegando a trabalhar com enxada na lavoura. Em compensação, foi ali que aprendeu com sua mãe os macetes do coco. No CD, ele conta essas e outras histórias deliciosas com seu vocabulário próprio, típico dos matutos daquela região. Diz que seu nome é José, mas que passou a ser chamado de Jaques pelos colegas, depois de Zé Jaques e Jaques do Pandeiro. Quando foi gravar, seu produtor acrescentou o son. Ele recorda ainda que seus primeiros sucessos foram Sebastiana e Forró em Limoeiro, com seu parceiro (e violonista) Rosil Cavalcanti, autor da primeira, e que chegou mesmo a estranhar quando lhe propuseram tocar com regional, ao invés da onipresente orquestra geralmente cedida aos artistas da época. Há ainda um depoimento no qual ele conta por que passou a acreditar no espiritismo. Finalmente, ele elogia a geração tropicalista, de Gil, Gal e Caetano que, na época em que o programa foi gravado (1972), tirou-o do ostracismo regravando várias de suas músicas. O repertório que vem acompanhado de seus depoimentos é irresistível. Forró em Caruaru, Xote de Copacabana, Chiclete com Banana, O Canto da Ema... só delícias para quem gosta de um forró-raiz ou um samba bem arretado. (Rodrigo Faour)