A MÚSICA BRASILEIRA DESTE SÉCULO POR SEUS AUTORES E INTÉRPRETES - JOHNNY ALF
Johnny Alf (2001)
Crítica
Cotação:
A coleção A Música Brasileira Deste Século por seus Autores e Intérpretes chega agora a seu quarto conjunto de discos (já são 50 títulos) insistindo em valorizar os grandes talentos da MPB, tantas vezes esquecidos. O programa Ensaio de 7/8/75 trouxe como convidado o carioca de Vila Isabel Alfredo José da Silva, dito Johnny Alf, precursor de muitas bossas, inventor de um estilo personalíssimo e marcante. Alf começou a batucar no piano ainda bem criança, mas o empurrão necessário veio da parte da madrinha, em forma de chantagem, quando ele tinha 9 anos: se passasse para o prestigiado colégio Pedro II (uma espécie de mini-vestibular, concorrido até hoje), ganharia aulas de piano. Passou em 13º lugar, e conquistou o direito às aulas de piano clássico. Enquanto conta as histórias, Alf vai ilustrando musicalmente seu trajeto, incluindo aí até mesmo uma valsa de Chopin (cuja influência rendeu a impagável Seu Chopin Desculpe). A professora, Dona Geni, sentiu que o jeito do menino era bom, especialmente para o estilo popular, e, abençoada seja, tratou de incentivá-lo. Segundo Alf, foi com Custódio Mesquita que se deparou com o primeiro acorde dissonante, em Velho Realejo, executado aqui por um já experimentado difundidor de tantas dissonâncias. Muitas vieram a reboque da influência da música americana. Alf, sócio-fundador do Sinatra-Farney fã-clube, conta que Dick Farney, recém-chegado dos Estados Unidos, conheceu os rapazes do seu fã-clube e os reunia em sua casa na Urca para ouvir as novidades que trazia da terra do jazz: o pianista Lennie Tristano, o saxofonista Lee Konitz, a cantora Sarah Vaughan, então em início de carreira, e Nat King Cole, uma das maiores influências, de quem interpreta Deep Heart.
O Rio de Janeiro descrito por Alf era realmente o dos anos dourados. Ainda graças ao Sinatra-Farney, que promovia shows, travou contato com Nora Ney, Carlos Manga e Billy Blanco, entre outros. Depois da barra familiar que enfrentou com a família por causa da decisão de ser músico da noite, Alfredo transformou-se definitivamente em Johnny. Sua primeira gig de verdade, com contrato, foi no restaurante Cantina, de César de Alencar, no início dos anos 50. Segundo seu relato, todos os dias depois do Cantina, juntava-se a Dolores Duran, Dora Lopes e Gilberto Milfond para jantar e ver o sol nascer. Nessa época incorporaram-se à "turminha" os recém-chegados Joões, o Gilberto e o Donato. Mais tarde foi, pelas mãos do violinista Fafá Lemos, para outras casas noturnas, como Monte Carlo, Drink e finalmente o Plaza, onde tornou-se atração principal da noite.
Desde suas primeiras composições (aqui ele toca Escuta, gravada por Mary Gonçalves em 1952) já é possível detectar seu gosto pelas melodias de inesperadas curvas, sempre acompanhadas por caminhos harmônicos tão surpreendentes quanto deliciosos. De surpresa em surpresa chega-se ao marco deste estilo, Ilusão à Toa, composta em 61, quando Alf morava em São Paulo, cuja introdução, com seus saltos melódicos inusitados, são um desafio aos cantores. Aliás, o estilo do Johnny cantor também influenciou uma enormidade de intérpretes, notadamente aqueles que fizeram carreira na noite. Para os pianistas, nem se fala: uma aula de acompanhamento.
Além de Ilusão à Toa, seus outros grandes hits não ficaram de fora do programa: Rapaz de Bem abre o disco, e Eu e a Brisa encerra este ótimo papo regado a excelente música. Sobre Eu e a Brisa, uma história interessante: a música foi composta como presente de casamento para um casal de amigos, e seria executada na cerimônia religiosa. Mas o padre responsável não permitiu, e a composição foi pra gaveta até o dia em que a cantora Márcia propôs defendê-la no Festival da Record em 67. Não ganhou, e foi até vaiada, mas tornou-se o maior sucesso de Alf, gravada de Maysa a Baby Consuelo, passando por Jards Macalé. Um verdadeiro standard. Como nem tudo são flores, o disco fica muito aquém do esperado no que se refere à qualidade do som do piano, que parece estar do lado de fora do estúdio. Enquanto isso, o som do baixo e da bateria (cujos executantes não são mencionados) vem para o primeiro plano. Salva-se a voz de Alf, dando um toque de classe a músicas de sua própria lavra, como Céu e Mar e Fim de Semana em Eldorado, ou de outros, como O Morro Não Tem Vez e Foi a Noite. Os discos da coleção estão à venda no site www.sescsp.com.br.(Nana Vaz de Castro)
O Rio de Janeiro descrito por Alf era realmente o dos anos dourados. Ainda graças ao Sinatra-Farney, que promovia shows, travou contato com Nora Ney, Carlos Manga e Billy Blanco, entre outros. Depois da barra familiar que enfrentou com a família por causa da decisão de ser músico da noite, Alfredo transformou-se definitivamente em Johnny. Sua primeira gig de verdade, com contrato, foi no restaurante Cantina, de César de Alencar, no início dos anos 50. Segundo seu relato, todos os dias depois do Cantina, juntava-se a Dolores Duran, Dora Lopes e Gilberto Milfond para jantar e ver o sol nascer. Nessa época incorporaram-se à "turminha" os recém-chegados Joões, o Gilberto e o Donato. Mais tarde foi, pelas mãos do violinista Fafá Lemos, para outras casas noturnas, como Monte Carlo, Drink e finalmente o Plaza, onde tornou-se atração principal da noite.
Desde suas primeiras composições (aqui ele toca Escuta, gravada por Mary Gonçalves em 1952) já é possível detectar seu gosto pelas melodias de inesperadas curvas, sempre acompanhadas por caminhos harmônicos tão surpreendentes quanto deliciosos. De surpresa em surpresa chega-se ao marco deste estilo, Ilusão à Toa, composta em 61, quando Alf morava em São Paulo, cuja introdução, com seus saltos melódicos inusitados, são um desafio aos cantores. Aliás, o estilo do Johnny cantor também influenciou uma enormidade de intérpretes, notadamente aqueles que fizeram carreira na noite. Para os pianistas, nem se fala: uma aula de acompanhamento.
Além de Ilusão à Toa, seus outros grandes hits não ficaram de fora do programa: Rapaz de Bem abre o disco, e Eu e a Brisa encerra este ótimo papo regado a excelente música. Sobre Eu e a Brisa, uma história interessante: a música foi composta como presente de casamento para um casal de amigos, e seria executada na cerimônia religiosa. Mas o padre responsável não permitiu, e a composição foi pra gaveta até o dia em que a cantora Márcia propôs defendê-la no Festival da Record em 67. Não ganhou, e foi até vaiada, mas tornou-se o maior sucesso de Alf, gravada de Maysa a Baby Consuelo, passando por Jards Macalé. Um verdadeiro standard. Como nem tudo são flores, o disco fica muito aquém do esperado no que se refere à qualidade do som do piano, que parece estar do lado de fora do estúdio. Enquanto isso, o som do baixo e da bateria (cujos executantes não são mencionados) vem para o primeiro plano. Salva-se a voz de Alf, dando um toque de classe a músicas de sua própria lavra, como Céu e Mar e Fim de Semana em Eldorado, ou de outros, como O Morro Não Tem Vez e Foi a Noite. Os discos da coleção estão à venda no site www.sescsp.com.br.(Nana Vaz de Castro)
Faixas