A MÚSICA BRASILEIRA DESTE SÉCULO POR SEUS AUTORES E INTÉRPRETES - NELSON CAVAQUINHO

Levado para a música pelos compositores Henricão e Rubens Campos - autores de sucessos da cantora Carmen Costa -, o genial Nelson Cavaquinho conta diversas histórias curiosas de sua vida no programa MPB Especial (1973), da TV Cultura, cujo áudio finalmente está à disposição do público, no formato CD. Nelson conta como suas músicas foram chegando aos estúdios de gravação. Que seu primeiro intérprete foi Alcides Gerardi (Não Faça Vontade a Ela), sucedido por Cyro Monteiro (Rugas) e tantos outros, como Dalva de Oliveira (Palhaço), Clara Nunes (Sempre Mangueira) e Elis Regina (Folhas Secas). Com sua voz rouca inconfundível, Nelson canta 25 jóias de seu repertório, algumas delas, com a ajuda da voz e do violão do fiel parceiro Guilherme de Brito. Em geral, são sambas tristíssimos, angustiados e com um certo temor da morte. Guilherme também dá seu depoimento, explicando que muitas das canções que fez com Nelson nos botequins da Praça Tiradentes, no Rio, se perderam em meio a bebida, mulheres e cigarros. Mesmo assim, várias sobreviveram ao esquecimento. Juntos, eles lembram algumas delas, tais como A Flor e o Espinho, Folhas Secas, Minha Festa e outras menos manjadas, como as dramáticas Mulher Sem Alma ("Quase passei fome pra honrar seu nome/ tropecei nos erros de uma mulher sem alma/ mas não perdi a calma"), Pecado ("Vai, antes que os vizinhos saibam... antes que o sol transforme em pedra o lamaçal que tu trouxeste/ para dentro do meu lar") e Garça ("És uma garça vadia/ voando na orgia sem ter direção"). Por sua vez, Nelson recorda ainda alguns personagens lendários da cena carioca que passaram por sua vida, como Noel Rosa (que gostou de um de seus sambas, Devia Ser Condenada), Sérgio Porto ("me ajudou a pagar uns móveis que tem lá em casa") e Zé Kéti ("Conheci quando ele trabalhou numa fábrica em São Cristóvão. Me socorria quando precisava de dinheiro para a passagem, já que eu gostava mais de um botequim do que de outra coisa"). Mesmo com um certo ranço machista comum à sua época em algumas letras, a música de Nelson sobrevive ao novo século como expressão máxima do samba de qualidade cunhado por um artista nato, que jamais estudou para exercer seu ofício.

Vale lembrar que os discos deste coleção não são vendidos separadamente. Mais informações no site do Sesc-SP: www.sescsp.com.br(Rodrigo Faour)