A NUVEM E A SEDE

Hoje em dia é possível contar nos dedos os artistas nacionais que não rotulam seu trabalho como "mistura". A "fusão de vários ritmos brasileiros" virou já quase uma sacrossanta instituição indicadora de contemporaneidade, em uma época em que é tão fácil estar datado ou ultrapassado. O compositor Sérgio Farias, carioca de 28 anos radicado em Natal (RN), define seu segundo disco, A Nuvem e a Sede, como "MPB sem mistura sem fusão e sem pretensão". E dá certo. O disco, brasileiríssimo, marca pela simplicidade e pelo bom gosto nos arranjos, no repertório e nas participações (das cantoras Carol Saboya e Valéria Oliveira, do bandolinista Alexandre Moreira e do MPB-4, além de um grande time de instrumentistas que participa em várias faixas). Além de tudo, Sérgio Farias é um bom cantor e compositor de talento – sua música Primeiro Olhar (parceria com Cristina Saraiva) foi uma das 48 selecionadas do recente Festival da Música Brasileira e defendida pela cantora Simone Guimarães, acompanhada ao violão por Sérgio. Não por acaso todas as músicas do disco são de sua autoria e apenas duas são parcerias, com Hermínio Bello de Carvalho (a lírica Ao Longe um Bandolim, cantada por Carol Saboya) e Mauro Aguiar (Parecença). Destacam-se ainda a abertura com Nuvem Cheia, o animado frevo Festa no Alecrim, o samba Sorrir por Sorrir e o encerramento, A Sede, com a cantora Valéria Oliveira, uma das faixas mais bonitas, tanto pela concepção quanto pela execução. Emocionante. Disco independente, o contato é direto com o artista: sergiofarias@natallink.com.br(Nana Vaz de Castro)