ACÚSTICO MTV ART POPULAR

Não, não é um "samba esquema novo", como anuncia (exageradamente) o próprio pai da matéria, Jorge Ben Jor, no samba-rock Quero Meu Dinheiro, faixa que abre o Acústico MTV Art Popular. Para promover uma revolução no gênero musical, os paulistanos ainda vão ter que fazer muito, muito mais do que esse disco. Considerando-se os limites estéticos impostos pelas gravadoras ao pagode, porém, ele é como uma lufada de ar fresco. Os sucessos do grupo dominam na seleção de repertório – têm letras fracas, isso não dava para mudar mesmo – mas os arranjos deram um acréscimo de bom gosto e sofisticação às músicas (especialmente ao hit Temporal), seja pela via do samba de raiz, ou pela da soul music – as correntes que mais contribuíram para a formação do estilo do Art. "Chegou a hora do samba... e do partido alto", anuncia Leandro no Pot Pourri de Pagode, que reúne sucessos pé-no-chão da banda, com uma citação de Sorriso Aberto (de Guará, cantada por Jovelina Pérola Negra). Muito feliz também foi a inclusão no repertório de Maneiras, bom samba gravado em 1987 por Zeca Pagodinho e relido com classe pelo Art. O soul, por sua vez, dá as caras na elegante faixa É o Fim, cantada junto com os seus autores, os integrantes do grupo vocal Ebony Vox. A aproximação com o pop também vinga nas versões de Lua Estrela (hit de Caetano Veloso composto por Vinicius Cantuária) e Um Auê com Você (Baby Consuelo), adequadamente trazidos para o universo da banda. Para não dizer que todas as letras do disco são fracas, há que se destacar as do quase-rap Gente Inocente e de Oração, que não decepcionam ao abordar a temática da injustiça social. Depois dessas faixas, é se esbaldar sem culpa com o balanção de Agamamou, que encerra o disco em alta, com um reforço de simpatia de Ben Jor. Quem se despir dos preconceitos vai até se divertir (além de se surpreender). (Silvio Essinger)