AD

O selo eletrônico da Trama, o Sambaloco, não se cansa de revelar o que os produtores brasileiros andam tramando em seus estúdios caseiros, na sua busca por uma inserção nas pistas de dança daqui e do exterior. Sua mais nova descoberta é a dupla AD, formada pelos produtores/músicos/videomakers (Jarbas) Agnelli e (Waldo) Denuzzo. Responsáveis pelo clipe japanimation de Made In Japan, do Pato Fu, eles estréiam em álbum em ritmo de big beats - espécie de eletrônica mais orgânica, variada e funkiada que a dos amigos techno -, com um trabalho que incorpora alguns poucos elementos brasileiros e não soa inferior diante dos modelos gringos. Pop e bem palatável, com guitarras e baixos de Denuzzo e teclados de Agnelli, AD não esconde suas influências. AD # 27 (Get Down), AD # 08 (Contact) e AD # 22 (Rangido Ritmado) são bem Prodigy e Apolo 440, roqueiras e com forte batida funk. AD # 13 (Impulsos Incontroláveis) resvala na sofisticação dos Propellerheads, com sample de Burt Bacharach. AD # 02 (Tools), com teclados soturnos, é Front 242 com a quebradeira rítmica do Atari Teenage Riot. Já AD # 18 (What In Hell It Is They Want?) é o velho Nine Inch Nails com temática alienígena, bem cara aos eletrônicos.

Onde o disco foge do previsível é em AD # 17 (A Noite Inteira), com sua citação de Coroné Antônio Bento (de João do Vale e Luiz Wanderlei, sucesso com Tim Maia), e em AD # 07 (Plástico) e AD # 06 (Piscina), com a escritora Fernanda Young recitando trechos de seu livro Sombra de Vossas Asas (Ed. Objetiva) - a segunda é a melhor, com uma espirituosa digressão sobre a suburbanidade. O rap de Wagner Denuzzo na heavy AD # 25 (Blá, Blá, Blá) e os vocais processados em vocoder de A Semana (Remix) ainda dão um diferencial ao disco, que mostra ser a dupla boa de big beats, mas ainda um tanto necessitada de originalidade.

(Silvio Essinger)