Admirável chip novo

A estréia solo da baiana Pitty (ex-Inkoma) não traz nada de genial ou revolucionário, mas não deixa de ser uma interessante e singular opção neste momento de crise criativa em nosso pop-rock. Admirável Chip Novo peca por ser um tantinho ambicioso demais; há todo um conceito meio “distópico-quase-pós-apocalíptico”, que se reflete nas letras e no visual do CD, que acaba soando ingênuo em vista do resultado final. Há outros méritos, entretanto. A moça canta muito bem, exibindo performance forte sem exageros. A banda segue atrás num rock pesadão, básico, sem firulas, mas de estilo próprio — sem se filiar à estética charliebrownjunioresca que grassa por aí. As composições também não desapontam, apesar de, frise-se mais uma vez, não serem geniais. É uma estréia com luz própria, ao menos — que brilha mais intensamente ao vivo do que no disco, diga-se de passagem. Talvez por conta da produção de Rafael Ramos, polida, radiofônica, mas que tira um pouco da “rascância” natural da banda.

O sucesso Máscara, que toca incessantemente nas ditas “rádios rock” por aí afora, dá uma boa idéia do que é o disco, mas não pode ser tomado como um resumo completo da história. Ainda que várias das faixas sigam o estilo encorpado e pesadão do single, como O Lobo, Teto de Vidro ou a faixa-título, há mais no álbum. A balada Equalize, a suavidade de Temporal (na qual violões se conjugam bem à interpretação de Pitty) e a rapidinha e pop I Wanna Be mostram outras nuances no rock da baianinha. Assim como quando ela, afinal, carrega para valer no peso (em Do Mesmo Lado, quase concessão ao metal). Enfim, tem diversidade, tem solidez nas composições e qualidade nas performances. Mesmo que não tenha chegado para mudar nada. (Marco Antonio Barbosa)