CANTADA

A cantora e compositora Adriana Calcanhotto chega com Cantada, CD de inéditas após dois anos trabalhando com o ao vivo Público. O disco reforça a marca da Adriana compositora - nove das 15 músicas do disco são dela. Mas as amizades, participações e parcerias (com Moreno+2, Péricles Cavalcanti, Arnaldo Antunes, até mesmo - indiretamente - Madonna e Carlos Drummond) pesam e muito no resultado final do trabalho. Tudo mirando na essência da canção, opção batida várias vezes pela própria Adriana nas entrevistas de divulgação do CD. A cantora acabou chegando a uma síntese que não esconde sua vocação para o experimentalismo, mesmo baseando-se em sonoridades econômicas e esparsas. Cantada configura-se como uma quase progressão de Público, mas de maneira não-óbvia. No disco ao vivo Adriana desnudava-se, só voz e violão, para enfrentar a platéia; agora, ela volta a despir-se (sonoramente, claro) para buscar o essencial de cada canção, acabando com um resultado intrigante em sua aparente simplicidade.

Um dos ícones da nova geração feminina da MPB, Adriana teve a intenção, com Cantada, de se despir de grandes parafernálias musicais para alcançar um disco mais "limpo". Mas a disposição para criar de seus músicos não cedeu à simplicidade, e sim ao tom equilibrado das canções. Programa tem intervenções de cellos de Moreno Veloso, presente também na serena Justo Agora. Já os samplers chegam mais indiscretos em Pelos Ares, um tango altamente estilizado, enquanto que os inconfudíveis efeitos de guitarras de Jr. Tolstoi se revelam em Eu Espero. O momento mais "light" em Noite dá partida à presença do piano de Daniel Jobim, que passa a ser marcante nas faixas seguintes. E Adriana, cantando em inglês, traz Madonna ao seu universo, emprestando à moderna Music/Impressive instant a cara de seu violão e dos pianos sobrepostos - e voz - de Daniel Jobim.(Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro)