PÚBLICO
Adriana Calcanhotto (2000)
Crítica
Cotação:
Na enxurrada de "ao vivos" (muitos deles "ao mortos") o da original Adriana distingue-se. Ela bate um violão sem virtuosismo mas com um travo pessoal, tropeça num cover de Carmen Miranda de E o Mundo Não Se Acabou, acerta na repescagem do Clandestino de Manu Chao e no singelo momento Jovem Guarda, Devolva-me (Renato Barros/ Lilian Knapp). Cantora de recursos limitados, cresce quando explora repertório próprio como Vambora, Cariocas, Esquadros, Vamos Comer Caetano (um techno/afoxé/parangolé de letra móbile sem medo de afrontas). Sua abordagem meio punk/debochada da figura do poeta português Mário Sá-Carneiro (ela musicou com sintonia fina seu poema O Outro) sinaliza o portal vanguardista que sempre está aberto em seus discos. Neste, o poema concêntrico Remix Século XX, que propõe um tabuleiro de palavras-souvenirs (ela saboreia particularmente a que denomina a anatomia feminina) aparece em duas versões — a última num remix da dupla Dudu Marote e DJ Mau Mau. Pinçada na fase morbeza romântica da dupla Macalé/Waly Salomão, Dona do Castelo junta-se à marcha/funk Maresia (Antonio Cícero/ Paulo Machado) e o descolado rockão Medo de Amar No. 3 (Péricles Cavalcanti) num fecho que acentua a intensidade do disco. Embora nem tudo tenha sido gravado ao vivo, Adriana passa com aberta intimidade sua pegada de cantora/autora que maneja bem o jogo de rigor e distensão de sua postura artística.(Tárik de Souza)
Faixas
Mus. Inc. "Ela é carioca" (Tom Jobim-Vinicius de Moraes)