ÁGUA DA MINHA SEDE
Zeca Pagodinho (2000)
Crítica
Cotação:
Gladiador (quase) solitário do pagode raiz, disputando nas paradas diretamente com os diluidores do ramo, Zeca Pagodinho mantém-se à tona combinando respeito à tradição (vide A Ponte, com participação do co-autor Elton Medeiros), acenos ao romantismo sem pieguice (Nunca Vi Você Tão Triste, de Monarco e Alcino Correa, o Ratinho, autores de Vai Vadiar, sucesso do disco anterior) e irreverência na escolha das inéditas. Fraseado malandro, ele canta (apenas uma faixa leva sua assinatura, mesmo assim em parceria) com humor e algum sarcasmo personagens de um universo próximo devidamente caricaturado. Como o Maneco Telecoteco tropeçando nas paixões enganadoras ("cuidado que ela vai sujar teu nome/ quer levar teu telefone/ o barraco e o tamborim"), o atabalhoado Vacilão ("foi lá no porão, pegou tresoitão/ deu tiro na mão do próprio irmão") e até o truculento Delegado Chico Palha ("era um homem muito forte/ com o gênio violento/ acabava a festa a pau/ ainda quebrava os instrumentos"), samba de 1938 da dupla Tio Hélio e Nilton Campolino, do Império Serrano. Além dos enredos como o "rango na caxanga de Dona Isabel" de Preservação das Raízes ou o engenhoso Shopping Móvel que descreve a camelotagem nos trens da Central, incluindo "CD pirata de Frank Sinatra a Zeca Pagodinho", o sambista não refuga misturas como o calangueado da faixa-título, a tintura rural de Cabocla Jurema (Nei Lopes/ Efson) e o maxixe do ancestral Sinhô em Jura, reprocessado no banjo. Embora a inspiração falhe em algumas faixas, Zeca (com Rildo Hora na produção) renova o fôlego nessa Água da Minha Sede.
(Tárik de Souza)
Faixas