AIRÁ OTÁ
Vitor da Trindade e Carlos Caçapava (2001)
Crítica
Cotação:
A música do duo Vitor da Trindade & Carlos Caçapava traça uma linha imaginária da influência da música africana sobre nosso continente. Isso se estende não só ao evidente legado dos escravos sobre nosso samba (e maracatu, côco e jongo), mas também estica a perna para o blues e o funk americanos e o reggae jamaicano. E é nessa veia - digamos, um afro-samba d'après Vinicius & Baden - que a dupla constrói seu primeiro CD, lançado depois de mais de 25 anos de parceria. Eles já se apresentam ao vivo desde 1975, tendo aberto shows de nomes como Martinho da Vila e Chico César e acompanhando artistas, sempre ligados à mais remota tradição negra.
São 10 canções com gosto de "elo perdido" entre o folclore afro-brasileiro, o partido alto urbano e o batuque rural; não seria errôneo apontar paralelos com a obra de um Itamar Assumpção, só com ênfase ainda maior na rusticidade. A instrumentação econômica (basicamente instrumentos de percussão de tradição africana, violões e um ou outro baixo e/ou cavaquinho) e o vozeirão zulu de Vitor dão o clima do álbum. Dentro deste espectro sonoro, eles variam bastante os climas. Há uma carioquice inegável em Rio e no sambinha djavaneado de Pregões do Rio. Na outra ponta, A Saia da Carolina é pura cantiga de senzala - na verdade um ancestral lundu composto no século XIX pelo escravo Xisto Bahia. A tradição pesa forte em Quizumbiando, samba-côco saído repleto de nordestinidade - tem sanfona e triângulo forrozeiros - e com vocal esperto, lembrando os repentes de rua. Alías, o trabalho de vozes da dupla é um destaques do álbum, em especial em músicas como Axèxèe A Velhinha do Angu. Eles também esbarram de leve no reggae com Sorriso da Lua e Oferenda e fecham bem o álbum com a sincopada e minimal Breznik 1. Da panelão da herança africana, a dupla até que extrai um trabalho bastante original, que merece atenção principalmente por sua autenticidade.(Marco Antonio Barbosa)
São 10 canções com gosto de "elo perdido" entre o folclore afro-brasileiro, o partido alto urbano e o batuque rural; não seria errôneo apontar paralelos com a obra de um Itamar Assumpção, só com ênfase ainda maior na rusticidade. A instrumentação econômica (basicamente instrumentos de percussão de tradição africana, violões e um ou outro baixo e/ou cavaquinho) e o vozeirão zulu de Vitor dão o clima do álbum. Dentro deste espectro sonoro, eles variam bastante os climas. Há uma carioquice inegável em Rio e no sambinha djavaneado de Pregões do Rio. Na outra ponta, A Saia da Carolina é pura cantiga de senzala - na verdade um ancestral lundu composto no século XIX pelo escravo Xisto Bahia. A tradição pesa forte em Quizumbiando, samba-côco saído repleto de nordestinidade - tem sanfona e triângulo forrozeiros - e com vocal esperto, lembrando os repentes de rua. Alías, o trabalho de vozes da dupla é um destaques do álbum, em especial em músicas como Axèxèe A Velhinha do Angu. Eles também esbarram de leve no reggae com Sorriso da Lua e Oferenda e fecham bem o álbum com a sincopada e minimal Breznik 1. Da panelão da herança africana, a dupla até que extrai um trabalho bastante original, que merece atenção principalmente por sua autenticidade.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas